28/08/2009

Vinha biológica no Vale da Vilariça

A Symington Family Estates é produtora de Vinho do Porto e Douro DOC nas 25 propriedades que possui na região demarcada do Douro. São cerca de 2000 hectares de propriedades e 900 hectares de vinha. Mais de 95% do negócio da empresa é centrado na exportação para 120 mercados internacionais. Depois do sucesso alçançado nos Estados Unidos da América, a empresa pretende estender a sua área de negócio aos países de leste, mais concretamente à Rússia e à Polónia.

Apesar dos mais de 350 anos de actividade na produção de Vinho do Porto e das 13 gerações da família envolvidas, a Symington pretende inovar e desenvolver nichos de mercado adaptados à nova realidade mundial, nomeadamente com preocupações ambientais. A empresa tem vindo a aumentar a área de vinha biológica na região duriense que se situa já em 150 hectares. Actualmente, é considerada a maior área de vinha biológica plantada no nosso país. Está localizada no Vale da Vilariça, perto de Torre de Moncorvo.

O clima do Vale da Vilariça, situada nas margens do rio Sabor, e a sua orografia plana, solo profundo e clima seco e quente, revelaram-se importantes para o desenvolvimento da viticultura biológica nesta zona do interior transmontano. A área de vinha biológica devide-se por 3 quintas todas elas com castas tintas: a Quinta do Ataíde (100 hectares), a Quinta de Assares ( 30 hectares) e a Quinta da Canada (20 hectares). A responsabilidade técnica está a cargo do Engº Alexandre Mariz, natural de Carrazeda de Ansiães.

O "Altano Organic Farming Douro tinto 2007" agora lançado revela um vinho que conseguiu ganhar a aposta neste tipo de prática cultural. A partir da vindima de 2010 toda a área terá completado os 5 anos de certificação e poderá iniciar-se a produção em grande quantidade de uvas biológicas. Esta opção vem assim desmistificar, de alguma forma, o facto de alguns operadores pensarem que este tipo de agricultura só poder ser possível em áreas pequenas, em locais isolados...
Artur Mesquita

27/08/2009

Ouro para Portugal

O aumento qualitativo dos vinhos portugueses começa a dar os seus frutos fora do nosso país. Será que os empresários do sector acordaram finalmente para a realidade mundial da produção e distribuição de vinho? Esperemos que assim seja! A quantidade de vinhos de considerável qualidade a preços razoáveis à venda em Portugal nunca foi tão alargada para a escolha do consumidor. Crise no sector ou realismo dos produtores?


No International Wine Challenge deste ano, provavelmente o mais conceituado concurso de vinhos do mundo, Portugal conseguiu um total de 345 medalhas que premiaram outros tantos vinhos. Depois das 30 medalhas de ouro conseguidas em 2008, este ano conseguimos atingir as 33 distribuidas pelos vinhos tintos (12), vinhos generosos (18) e vinhos brancos (3). Em termos mundiais, Portugal só ficou atrás da França (com 47 medalhas de ouro, incluindo 17 de champanhe), da Austrália (41) e da Itália (34). A seguir aos nossos vinhos classificaram-se o Chile (com 21 medalhas de ouro), a Nova Zelândia (19) e a Espanha (14).


Apesar da maioria das medalhas de ouro terem sido destinadas aos Vinhos do Porto, merecem destaque as 3 medalhas atribuidas aos vinhos brancos lusos, incluindo uma para o "Marquês dos Vales Primeira Selecção 2008", o primeiro produtor do Algarve a alcançar esta distinção. Os outros dois vinhos brancos galardoados foram o "Muros Antigos Alvarinho 2007" da região dos Vinhos Verdes e o "Quinta dos Carvalhais Encruzado 2007" da região do Dão. Nos vinhos tintos destacaram-se, entre outros, o "Quinta do Infantado Douro 2007", "Quinta Vale D. Maria Douro 2006", "Quinta da Garrida Dão 2006" e o "Herdade do Peso Alentejo Reserva 2005". Neste concurso, os vinhos portugueses conseguiram ainda 77 medalhas de prata, 123 medalhas de bronze e 130 menções honrosas.


Os vinhos presentes foram julgados por um conjunto de 370 enólogos, pessoas ligadas ao ramo e críticos de vinho. Entre estes estiveram os portugueses Rui reguinga, Charles Symington, António Maçanita e Rui Madeira. Numa escala classificativa de 0 a 100 pontos, para se conseguir uma medalha de ouro, os vinhos devem atingir uma pontuação entre 95 e 100 pontos, de prata entre 90 e 94 pontos e de bronze entre 85 e 90 pontos. A menção honrosa destina-se a vinhos classificados de 80 a 84 pontos.


Artur Mesquita

Revisitar Trás-os-Montes

Da majestosa localização do Penedo Durão, perto de Freixo-de-Espada-à-Cinta, pode-se contemplar esta fantástica e imensa paisagem.

O rio Douro que divide e aproxima as duas margens. Na margem oposta as terras espanholas e a barragem de Freixo-de-Espada-à-Cinta (antiga fronteira guardada por portugueses e espanhóis).



O rio Huebra (Espanha) a desaguar calmamente no Douro.



26/08/2009

O gosto na prova de vinhos




Olhos e nariz abrem o caminho à prova de boca, onde o gosto "mede" verdadeiramente o que temos dentro do copo. "Bom" ou "mau" tudo dependerá do conhecimento, da cultura e dos critérios de escolha de cada um de nós. Mas o gosto também se educa...

O que é o GOSTO?
É o estímulo emitido por moléculas e iões presentes nas inúmeras soluções que ingerimos e recebido pelas papilas gustativas localizadas na cavidade bucofaríngea. Se quisermos ser rigorosos esta é talvez a parte mais complexa de toda a prova. Mas se, pelo contrário, quisermos ser práticos e superficiais, bastará muito simplesmente tentar sentir o quanto diferente é o vinho em prova, da água. Não servirá para escrever uma nota de prova mas ajudar-nos-á a sentir e a comunicar com o vinho. Para quem quer ir um pouco mais longe podemos falar de várias particularidades do sentido do gosto e também dos 4 sabores básicos.

  • DUAS LEIS BÁSICAS - Na prova de boca podemos sentir os aromas de boca (através do canal retronasal), os 4 gostos básicos e as sensações tácteis de temperatura. Na prova de boca avaliamos também o equilíbrio gustativo do vinho em causa assim como a sua qualidade geral, complexidade e nos melhores casos, o tipo de carácter que oferece à prova. Duas leis básicas influem fortemente neste momento de prova: a prática da prova desenvolve a percepção do gosto enquanto que rotinas e hábitos rígidos tendem a diminui-la. No primeiro caso devemos entender igualmente que esta prática deve ser a mais diversificada possível, enquanto que no segundo os exemplos de uma pessoa que se habitua ao sabor amargo do café e deixa de lhe deitar açúcar, ou de outra habituada a comer comida sem sal e que será muito sensível a este gosto ou ainda para um guloso para quem os doces podem tornar-se um vício pois que nunca são suficientes, explicam os riscos, em termos de flexibilidade do gosto, das rotinas alimentares.

  • AS BOCAS SÃO TODAS DIFERENTES - O que é que provamos? Provamos misturas de saliva com um determinado produto. A introdução de comida na boca, ou apenas a sugestão desse estímulo leva a um acréscimo da actividade glandular que logo enriquece a boca com saliva cheia de sucos digestivos e respectivas enzimas. Assim sendo, nós provamos sempre não apenas o vinho mas sim uma mistura de vinho com saliva. Como a composição da saliva é diferente entre os seres humanos, particularmente no que se refere à percepção da acidez (pH da saliva e sua ligação vinho/saliva) e da adstringência (relação das proteínas salivares com o tanino do vinho), é de aceitar que todos nós provamos de um modo próprio. Devemos também aceitar que o limiar de percepção varia conforme o indivíduo, existindo mesmo algumas pessoas que sofrem de agustia (perda total do gosto) ou hipogustia (perda parcial do gosto). A hipogustia é mais comum e aceita-se que cerca de metade da população possa sofrer desta alteração. Pessoas que gostam mais de vinagre são pouco sensíveis ao gosto ácido ou pessoas que abusam do sal são pouco sensíveis ao gosto salgado, etc.
  • OS 4 SABORES - Além das percepções tácteis e de temperatura, a boca permite a percepção de 4 gostos ou sabores: doce, salgado, ácido e amargo. Toda a superfície da língua possui receptores de estímulos gustativos mas a sua sensibilidade aos gostos é bastante diferente. Por sistematização da técnica de prova aceita-se que o gosto doce se sente na parte anterior da língua ( sensivelmentejunto à ponta da língua), o salgado nas duas pequenas áreas anteriores laterais, o ácido nas partes laterais e o amargo na zona central posterior. Mas, na verdade não é bem assim. Todas estas áreas misturam-se e sobrepõem-se umas às outras. O sabor DOCE em quantidades muito variáveis consoante o tipo de vinho, chega-nos através dos açúcares (glucose e frutose) e dos álcoois (etanol, glicerol, butileno glicol...).
    O ÁCIDO vem de vários ácidos presentes no vinho: tartárico (gosto duro), málico (verde), cítrico (fresco), sucínico (amargo e salgado), láctico (azedo) e acético ( acre).
    O sabor SALGADO vem dos saIs minerais e orgânicos (2 a 4 gr/l).
    O gosto AMARGO é da responsabilidade dos compostos fenólicos (taninos e antocianas), presentes nos vinhos tintos entre 1 e 4 gr/l, e nos brancos nalgumas dezenas de miligramas por litro. Quando um vinho rico em taninos provoca adstringência na boca não é mais que a coagulação das proteínas salivares em contacto com o tanino do vinho.

  • DIFERENTES FUNÇÕES - Cada sabor básico tem funções próprias nas sensações e equilibrio de prova que transmitem.
    O DOCE dá a sensação de corpo, volume e, quando em excesso, de peso. Para muitas pessoas é realmente o único sabor que interessa. Modera e equilibra a acidez, a adstringência e o amargo, que por sua vez lhe moderam a intensidade.
    O ÁCIDO dá forma e realça a fruta, torna os vinhos mais leves e vivos. Nos vinhos brancos responde pela estrutura e longevidade. Acidez excessiva tende a diminuir a produção de saliva e uma acidez equilibrada tende a estimulá-la.
    O sabor SALGADO não é preceptível na maioria dos vinhos mas contribui para o seu equilíbrio e funciona como um intensificador de qualquer um dos outros sabores.
    O sabor AMARGO depende do tipo e grau de maturação dos taninos. Faz parte da vinosidade e da estrutura dos vinhos tintos e a sua qualidade é indispensável num bom vinho.

OS SABORES BÁSICOS DA PROVA - Aos 4 sabores básicos estão normalmente associados diversos termos na prova de vinhos.

DOCE - muito doce, enjoativo, pesado, monótono, meloso, maduro, axaropado, doce, meio doce, meio seco, seco...

AMARGO - Verde, vegetal, herbáceo, acre, acerbo, austero...

ÁCIDO - Acídulo, mordente, picante, azedo, plano, frouxo, brando, moderado, suave, nervoso, vivo, viçoso, fresco...

SALGADO - sais, salgado, iodado...

BOAS PROVAS!

João Afonso in RV, adapt. Artur Mesquita