17/01/2018







VILA NOVA DA RAINHA / TONDELA - UMA CATÁSTROFE FACILMENTE EVITADA (MAIS UMA VEZ)

Depois dos relatos dos órgãos de comunicação social ter relativamente diminuído, penso ser da nossa competência e do nosso interesse, consultores e técnicos de SCIE, a análise as causas deste incêndio, reflectindo sobre a sua a génese.


À partida, surge imediatamente um pensamento: é necessária uma cultura de segurança e de prevenção mais intrínseca nas pessoas relativamente aos incêndios, sejam eles florestais ou em edifícios. Se essa sensibilização não existir nada será suficiente! Nem os melhores regulamentos, nem os melhores equipamentos poderão substituir estas duas vertentes.


Por isso, abro aqui uma janela de análise e de diálogo a quem possa ter um interesse acrescido sobre este incêndio. E que este artigo possa constituir uma plataforma de discussão.


Compreensivelmente, não me foi permitido visitar o local. Os dados mais técnicos, incluindo medições de larguras de passagem ou outros que aqui adoto não foram confirmados no local. Admito, por isso, alguma discordância pontual nos dados técnicos que a seguir indico. Mesmo assim, estou certo que não estarão longe da verdade.


Durante a ocorrência dos fogos florestais de 2017 pensava e comentava com colegas que um dia, algures no futuro (esperando eu estar equivocado), iria acontecer uma catástrofe num edifício e seria a vez do foco mediático dos incêndios incidir na outra vertente desta área: OS EDIFÍCIOS! Pois, infelizmente aconteceu. Mais cedo do eu esperaria!


Mas vamos ao assunto.


FACTOS (EVENTUALMENTE) COMPROVADOS

·     - O sinistro, com início no piso 1 (piso superior) do edifício, teve início na propagação da temperatura da chaminé da salamandra para os elementos que constituintes da cobertura do edifício.

·      - Pela análise das peças televisivas e jornalísticas, haveria um teto falso construído em placas de gesso cartonado e, acima deste, uma cobertura construída em painéis do tipo “sandwich” (tudo aponta nesse sentido) com poliuretano no seu interior.

·      - O tubo da salamandra é prolongado através do teto falso, do painel da cobertura, terminando ao ar livre sobre a cobertura do edifício.

·     -  A evacuação (ou o acesso) ao piso superior seria realizada por intermédio de um vão de escada (portanto, um caminho de evacuação) com cerca de 1 metro de largura, segundo alguns depoimentos.

·     - No piso inferior, o acesso ao exterior seria realizado através de uma porta no fim da escada, com abertura para dentro do edifício ou, em alternativa, por outra porta (desconheço o sentido da abertura) que iria dar a um salão e daí haveria a possibilidade de aceder ao exterior do edifício. Desconheço se a porta ao fundo das escadas estaria fechada à chave mas, porventura, isso será irrelevante, uma vez que a mesma não abriu devido ao amontoamento de pessoas junto à sua face interior.

·      -  O edifício não possuía extintores nem outro tipo de equipamentos de primeira intervenção. 

·     -  A contabilizar pelo número de pessoas divulgado, 9 vítimas e 37 feridos, facilmente chegamos a um efetivo de 46 pessoas no piso superior. Teoricamente, esse efetivo facilmente ultrapassaria as 50 pessoas, só no piso superior.

·  -  Em princípio, estaremos em presença de um edifício considerado como “existente”, ou seja, construído anteriormente à atual legislação. Para não me alongar muito pela regulamentação de SCIE, faço uma breve menção ao art.º 14º - A – “Edifícios e recintos existentes”, do RJSCIE - Regulamento Jurídico de Segurança Contra Incêndio em Edifícios, aprovado pelo DL nº 220/2008, de 12 dezembro e alterado pelo DL nº 224/2015, de 9 de outubro, em vigor desde 1 de janeiro de 2009.


ANÁLISE TÉCNICA

Estes são os factos comprovados:

·   -  Estamos em presença de um estabelecimento do tipo VII “Hoteleiros e Restauração”, sem locais de risco E, altura inferior a 9m, com possível efetivo inferior a 100 pessoas.

·  -  Pelos número de pessoas avançadas pelos meios de comunicação, do piso superior deveriam poder ser evacuadas um número ligeiramente acima das 50 pessoas.

·     -  Segundo informação veiculada pela comunicação social, as vítimas pereceram devido à inalação de fumos e ao pânico instalado durante o processo de evacuação.

·     - Devido à quantidade de fumo e à sua toxicidade, a maioria das pessoas ficou desorientada, perdendo a noção do sentido do caminho de evacuação que as levaria ao exterior do edifício.

·     -  Pelo facto de existir um só caminho de evacuação (a escada), as pessoas precipitaram-se para essa via e daí para a porta da saída de emergência em frente obstruindo-a de tal maneira que não foi possível a sua abertura. Esta porta tinha o sentido de abertura para o interior do espaço.

·    -  Conforme relato de algumas testemunhas, teria ocorrido uma explosão no decorrer do incêndio. Foi adiantado por algumas pessoas presentes no local ter sido originada pelo rebentamento de uma botija de gás. No entanto, tudo leva a crer que tenha sido uma deflagração repentina dos gases inflamáveis, partículas de carbono, produtos parciais da combustão, acumulados nas zonas mais altas do compartimento. Estes gases foram oxigenados por uma corrente de ar proveniente da quebra do vidro de uma janela do compartimento, o que deu origem à sua ignição explosiva. Este processo é conhecido por “backdraft”.


NÃO CONFORMIDADES 

·    - Tendo em conta o efetivo do piso superior, além da escada existente, deveria possuir outro caminho de evacuação alternativo com outra saída de emergência.
·    -  No entanto, tratando-se de um edifício “existente”, e sendo esta escada a única via possível de evacuação deste piso, parece-me razoável e aceitável que a mesma devesse ter, no mínimo, 2 UP de largura, ou seja, 1,40m de passagem livre.
· - Os componentes do teto falso e da cobertura deveriam possuir a reação ao fogo mínima exigida regulamentarmente. A cobertura não deveria ser construída em painéis do tipo “sandwich”, com poliuretano (PIR - poliisocianurato  e PUR - poliuretano). A estrutura deste material e a sua densidade fornecem-lhe as caraterísticas de um excelente isolante térmico mas de um material com um mau desempenho relativamente à reação ao fogo, quer na produção de fumos, quer na produção de gotículas incandescentes (existem relatos de pessoas que atestam as gotas incandescentes)..

·     - A porta de saída para o exterior deveria abrir no sentido da fuga, com recurso a uma barra anti-pânico (efetivo superior a 50 pessoas) … e não deveria, supostamente, estar fechada à chave Por outro lado, é muito provável que esta porta não possuísse a largura mínima suficiente para evacuar o efetivo necessário.

·   - Deveria ter sido instalada iluminação de emergência e sinalética fotoluminescente de incêndio que indicasse os caminhos de evacuação e as saídas de emergência para o exterior. Muito provavelmente, as pessoas poderiam ter optado pela outra saída adjacente.

·     - Com um forte grau de certeza, não existiria qualquer sistema de deteção automática de incêndio instalado.

·   - A não existência de extintores, apesar da sua obrigatoriedade, em nada contribuiria para atacar o fogo na cobertura, acima do teto falso. Poderia fornecer, isso sim, algum contributo para extinguir um possível foco de incêndio que fosse mais acessível.


CONCLUSÕES

Deste contexto, poderemos, desde já, extrair algumas conclusões:

·   -  A construção do edifício foi realizada completamente à margem de qualquer regulamentação de SCIE, seja ela a atual ou a anterior a 1 de janeiro de 2009. Não é certo que as obras (interiores ou não!) tenham sido realizadas sob a alçada da anterior legislação de SCIE. Para o caso, este facto é irrelevante uma vez que a competência de assegurar o cumprimento do regime de segurança contra incêndio em edifícios recai sobre a ANPC (Art.º 5º, RJSCIE) – sejam eles “existentes” ou não. A responsabilidade da Câmara Municipal de Tondela no processo de licenciamento das obras deste edifício estará por apurar.

·  -  Todos os edifícios estão sujeitos a inspeções a realizar pela ANPC ou por uma entidade por ela credenciada e este não é exceção. Muito provavelmente, a ANPC não agiu em conformidade, como é da sua competência.

·   -  A responsabilidade da implementação e da preservação das condições de segurança contra incêndio no interior do edifício recai sobre a Direção da Associação Recreativa, podendo mesmo essas pessoas virem a ser constituídas arguidas se o Ministério Público assim decidir.

·  - Nesta panóplia de incumprimentos, é também dado como certo que o edifício, apesar da obrigação regulamentar, não possui Medidas de Autoproteção implementadas e aprovadas pela ANPC.

·  -  Por outro lado, penso não ser aceitável que os incumprimentos que o edifício possui sejam suficientes para invocar o art.º 14º A, ponto 2, do RJSCIE, ou seja, que as medidas obrigatórias não tenham sido implementadas quer pela sua desproporcionalidade, quer pelas caraterísticas construtivas, arquitectónicas ou de funcionamento e exploração.


A ANPC E O ESTADO

Apesar de num passado muito próximo terem ocorrido incêndios com dimensões maiores do que este, o efeito mediático do incêndio em Vila Nova da Rainha – Tondela foi maior. Porquê? Infelizmente, por uma única razão! Deu origem a vítimas e os incêndios anteriores não!


Um exemplo: em setembro de 2012 deflagrou um incêndio no Retail Park de Portimão. Cerca de 230 trabalhadores, sem contar com o número de pessoas que diariamente visitavam este espaço. Foram destruídas várias lojas (Decathlon, Aki, Staples, De Borla, Rádio Popular, Moviflor e Continente).Quem viu as imagens após este incêndio não pode deixar de recordar esta zona como uma “zona de guerra”. O momento do seu início, às 02h30 da manhã, foi a razão para a não existência de vítimas. Não funcionou a deteção automática (alegadamente inoperacional), provou-se que a compartimentação entre lojas era inexistente. Realização inspeções da ANPC ao Retail Park? Desconheço. Se a ANPC realizou inspeções ao estabelecimento e se os incumprimentos não foram detetados será ainda mais gravoso… A comunicação social noticiou este incêndio durante pouco tempo. Esta notícia deixou der ser “spot” passado um par de dias!


Dois incêndios diferentes mas com um ponto comum: a não realização de inspeções de SCIE aos edifícios. Sabemos que, atualmente, a ANPC não tem técnicos suficientes para desenvolver no terreno estas ações e que os sucessivos governos não investem na segurança do país como deviam – tal e qual como o caso dos incêndios florestais. Temos a prova disso todos os dias! As inspeções da ANPC poderiam contribuir para que não ocorram estas situações? Possivelmente a probabilidade seria menor. Temos de começar por algum lado…


No decorrer de uma conferência no ano passado, um elemento da ANPC informou a audiência que no segundo semestre desse ano (2017) os CDOS – Comandos Distritais de Operações de Socorro estavam obrigados a realizar, pelo menos, 5 inspeções extraordinárias aos edifícios da sua área geográfica. Ora, se tivermos em conta a área imensa que tem um qualquer distrito em Portugal e a quantidade de edifícios passiveis de sofrerem inspeções extraordinárias, o que representam 5 inspeções num mês? Com associações recreativas (agora, claro!), dezenas de estabelecimentos que recebem público, edifícios industriais, edifícios públicos (claro, não estão isentos do cumprimento das premissas de SCIE!), etc…, 5 inspeções mensais são uma gota de água num oceano na contabilidade probabilística da ocorrência de um incêndio. “Se alguma coisa pode correr mal certamente correrá, e da pior maneira possível!”!


A divulgação pública dos relatórios da ANPC sobre estes incêndios poderia constituir uma importante ferramenta de estudo e de prevenção para todas as pessoas ligadas a esta área. Qual a razão para isso não suceder?


28/06/2017





CARTA ABERTA AOS POLÍTICOS DO MEU PAÍS

Depois de dominados os incêndios em Pedrogão Grande e em Góis, depois de começarem a ser realizados os funerais das pessoas que neles pereceram, depois das televisões partirem para outros sensacionalismos e para outras notícias especulativas, penso ser chegada a altura de fazer alguns comentários ao que ocorreu nos últimos dias trágicos. Confesso que pensei muito nesta questão e na forma de a abordar mas, por mais que tentasse abordar este assunto doutros ângulos, encaminhou-se sempre para o reduto dos políticos portugueses.
Porquê? Porque são eles que andam a esgrimir argumentos há décadas sobre esta matéria sem nunca lhe terem dado a devida relevância. Sendo eu um optimista, não acredito que os políticos relevem que este assunto após esta tragédia – já existiram outras anteriores e nada ou pouco foi decidido e feito. Ver para crer!
O meu distanciamento dos partidos políticos e a minha ligação profissional desde há muito tempo à segurança contra incêndio em edifícios (não sendo bem a mesma área dos incêndios florestais), quiçá me permitirão falar um pouco mais á vontade sobre este tema e sobre esta área da segurança.


AS MORTES (QUASE) ANÓNIMAS
2017 - 64 vítimas mortais, entre as quais um bombeiro
2016 – 3 vítimas mortais
2013 – 9 vítimas mortais, entre os quais 8 bombeiros
2012 – 6 vítimas mortais, entre os quais 4 bombeiros
2006 – 5 vitimas mortais, bombeiros chilenos que ajudavam no combate ao fogo
2003 – 18 vítimas mortais
1986 – 13 vitimas mortais
1985 – 14 vítimas mortais, todos eles bombeiros
Será que iremos assistir, ano após ano, à morte de pessoas sem que pouco ou nada seja feito?


OS POLÍTICOS
Todos os quadrantes políticos da área da governação nas últimas décadas em Portugal são, a meu ver, responsáveis por esta e pelas anteriores tragédias que ocorreram. Por entre decapitações orçamentais, falta de equipamentos nos meios de socorro (como aconteceu há uns anos) e falta de vontade política em abordar e resolver estas questões que, diga-se de passagem, não dá muitos votos aos partidos políticos, situa-se a génese desta questão. Este é o problema fulcral. Tudo o resto vem a seguir!
Depois das mortes, dos enormes prejuízos na nossa economia, do património florestal delapidado, da falta de proteção das pessoas e das povoações, não serão os nossos políticos (assembleia da república e autarcas) os responsáveis em primeiríssima instância?
A legislação em vigor nem sequer é cumprida. Quantos senhores autarcas têm um plano de risco de incêndio actualizado do seu concelho, que possa servir de base a uma prevenção eficaz destes incêndios? Porque é que não são aplicadas as coimas previstas na lei para quem não limpa a floresta, Estado incluído? Para quando um cadastro da floresta em Portugal que permita saber a quem pertencem os terrenos e a quem imputar responsabilidades pela limpeza das matas? Para quando uma política de ordenamento florestal eficaz?
Porque é que a justiça não atua eficazmente sobre os incendiários (se a lei é desadequada, mude-se!...)?
Há anos que os nossos políticos falam nisto mas as decisões que poderiam ter um verdadeiro impacto na situação dos incêndios em Portugal estão por tomar! A resposta está na PREVENÇÃO!


OS BOMBEIROS
É importante que se diga que a esmagadora maioria dos Bombeiros em Portugal são voluntários. São pessoas altruístas que dão a vida por outros em cumprimento do seu lema “ Vida por Vida”. Com a quantidade de fogos e de mortes que todos os anos ocorrem nosso país penso que é perfeitamente justificável o profissionalismo dos Bombeiros, aliás, conforme muita gente tem sugerido há muitos anos. Os Bombeiros pouco ou nada podem fazer nos incêndios de grandes dimensões. Nestes casos, são os meios aéreos que assumem importância no combate. Os nossos políticos ainda não concluíram se se justifica aplicar meios financeiros neste propósito? Revejam as mortes e os prejuízos causados pelos incêndios ao país, ano após ano. Tenho sérias dúvidas que o aluguer anual dos meios aéreos, com contratos sempre ensombrados por negociatas vantajosas para alguém, em detrimento da sua compra, seja a situação mais vantajosa para o Estado,
Na semana passada, num debate em Lisboa sobre o incêndio na torre Grenfell em londres, um elemento de uma corporação de Bombeiros do norte queixava-se que, com a exceção das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, não conseguia que a Escola Nacional de Bombeiros o incluísse nas ações de formação. Tinha solicitado formação a esta entidade há mais de 2 anos e ainda não tinha conseguido uma resposta. E não devemos esquecer que estamos a falar de Bombeiros Voluntários e não profissionais! Em conversa posterior, o que ficou implícito foi que fora das 2 grandes áreas metropolitanas, as corporações do resto do país não conseguem a formação necessária. Que raio de país é este?


A ANPC – AUTORIDADE NACIONAL DE PROTEÇÃO CIVIL
Sendo esta a entidade nacional diretamente implicada na proteção civil e, mais uma vez, tendo eu por força da minha profissão, contacto direto com os CDOS-Comandos Distritais de Operações de Socorro de muitos dos distritos do nosso país e ainda com os debates e palestras que tenho frequentado, apercebo-me que os cortes orçamentais impostos pelo poder político (principalmente pelos últimos governos) diminuiu significativamente a sua capacidade operacional e interventiva.
No caso concreto dos edifícios, não têm sido realizadas inspeções com mais frequência por existirem meios humanos insuficientes. Um destes dias, a tragédia irá ser num edifício e não na floresta – longe vá o agoiro!


O SIRESP E OUTRA VEZ… OS POLÍTICOS!
O SIRESP-Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança em Portugal, a rede de comunicações usada pelo INEM, polícias e Bombeiros, nasceu de mais uma parceria público-privada promovida pelo Ministério da Administração Interna que custou mais do que parece merecer. Na situação em que não devia falhar, falha (a lei de Murphy deveria ter passado ao lado)! Em anos anteriores foram verificadas falhas nesta rede: em 2016 verificou-se ausência de sinal ou sinal insuficiente em alguns pontos do território nacional, em 2014 verificou-se a ausência de sinal em elevadores e garagens e em alguns hospitais…
Socorrendo-me de uma artigo publicado hoje no público podemos analisar perfeitamente como o SIRESP foi criado. Claro está, tudo factos políticos!
“Em 2005, o ministro da Administração Interna Daniel Sanches – que trabalhava para a SLN antes de integrar o governo – e o ministro das Finanças Bagão Félix adjudicaram o negócio por mais de 500 milhões de euros, três dias depois de Pedro Santana Lopes perder as eleições para José Sócrates. Num primeiro momento, António Costa, ministro da Administração Interna de Sócrates, travou a adjudicação, mas acabou por fechar o negócio por 458 milhões. Juntando-lhe as despesas de operação e manutenção são 600 milhões de euros até 2021 por um sistema miserável. Acham mesmo que esta tragédia não tem implicações políticas? Claro que tem. E não são poucas.…”
“…O SIRESP voltou a falhar no incêndio de Pedrógão Grande. Existem quatro unidades móveis que podem ser activadas para responder a quebras do sistema, por destruição das torres fixas – que são mantidas, imaginem, pela MEO. Duas dessas unidades são ligeiras mas não dispõem de ligações por satélite. Restam duas unidades pesadas, uma mantida pela GNR, outra pela PSP. A que é mantida pela GNR estava indisponível: aquando da visita do Papa, há cinco semanas, danificou uma das antenas em Fátima, e pelos vistos as antenas de uma rede de emergência demoram tanto a ser arranjadas como as escadas rolantes da Baixa/Chiado. Sobrava a unidade da PSP – e lá foi ela. Chamada às 23 horas de sábado só conseguiu restabelecer as comunicações às oito horas de domingo. É isto o SIRESP.”


TEMPO DE RESPOSTAS CLARAS E OBJETIVAS!
Algo de errado se passou neste incêndio em Pedrogão. Falha de comunicações, inoperância de algumas entidades, falta de coordenação… Espero que sejam apuradas responsabilidades de todas as entidades mas desde já, saltam várias questões sem resposta.
 - Porque é que a estrada EN 236 não foi fechada antecipadamente ao trânsito? É certo que a GNR não recebeu essa informação da ANPC… Porquê?
 - Tendo em conta o início do incêndio, porque é que a resposta da ANPC chegou tão atrasada? Será que não existiu uma correta e atempada avaliação da situação no terreno?
 - Existiu ou não falta de coordenação entre todas as entidades envolvidas? Parece-me evidente que sim.


…E AINDA OS POLÍTICOS
Mais uma comissão de inquérito, desta vez “independente” para analisar o que ocorreu em Pedrogão, mais uns meses para obter respostas - conclusivas ou não - sobre o que ocorreu. E ainda agora o verão de 2017 chegou… E também virá mais um verão em 2018… com tudo na mesma!
Já agora lanço daqui uma questão frontal aos nossos governantes, talvez se evite uma tragédia um dia destes: o documento com as alterações propostas ao RTSCIE - Regulamento de Segurança Contra Incêndio em Edifícios (Portaria 1532/2008, de 29 de dezembro) está algures nos corredores ou nas gavetas de S. Bento vai para quase 2 anos (seguramente há mais de um ano) para ser promulgado. Essas alterações visam clarificar várias situações técnicas do regulamento original e introduzir melhoramentos na prevenção dos incêndios em edifícios no nosso país. V. Exas ainda continuam a analisar essas alterações? Se trabalhassem numa empresa privada, das tais que criam riqueza no país, concerteza que ao fim deste tempo todo o vosso lugar já estaria vago.
Claro que, mais uma vez, os políticos do PS, do PSD e do CDS que governaram o país ao longo destes anos estão no cerne destes acontecimentos. De nada vale assobiar para o lado e fingir que não é nada com eles. Se assumem, desta vez, essa responsabilidade é outro assunto. Não acredito que o façam.

Assim vai este país à beira mar plantado!
Incêndio na Grenfell Tower – Londres




Segundo a BBC, o incêndio na Grenfell Tower em Londres teve início num frigorífico do interior de um apartamento, possivelmente localizado no 4º piso. A compartimentação entre pisos, típica neste tipo de edifícios ingleses, deveria ter contido o incêndio até à chegada da London Fire Brigade, a qual estimou e cumpriu um prazo de intervenção de 6 minutos após o alarme.


No entanto, a situação precipitou-se. O fogo do interior do apartamento rapidamente se alastrou ao revestimento da fachada e daí a todo o edifício. Quando os bombeiros londrinos chegaram ao local, com a ajuda do vento, já a quase totalidade do edifício estava em chamas.


Suspeita-se que a rápida propagação do fogo se deveu ao grau de inflamabilidade do revestimento da fachada. Este edifício de apartamentos de habitação social, construído em 1974, tinha sido alvo de uma recente remodelação. As obras custaram cerca de 10 milhões de euros. Com a finalidade de aumentar a eficiência energética do imóvel e de tornar o edifício esteticamente mais apelativo, a opção para o revestimento das fachadas recaiu sobre um compósito de alumínio cujo núcleo é o polietileno (basicamente, um plástico). A opção por um revestimento com as necessárias caraterísticas de reação ao fogo teria custado mais 3 euros por cada metro quadrado de fachada. No valor total da obra, a diferença seria equivalente a seis mil euros (numa obra com o valor final de 10 milhões de euros este aumento teria sido insignificante).


Este material, comercializado pela norte-americana Harley Facades (Reynobond), é a versão mais barata das suas três versões. Segundo o Times, a aplicação desta versão está banida nos EUA para este tipo de edifícios. As normas europeias aplicadas também em Portugal, exigem que a reação ao fogo destes materiais seja atestada através de ensaios laboratoriais após os quais deve ser emitido por um organismo com competência reconhecida, um relatório de classificação.


Com base nas estatísticas, em Portugal morrem 60 pessoas por ano vítimas de incêndio urbanos (só em Lisboa deflagram diariamente seis incêndios). É importante adicionar este número de óbitos, dos quais ninguém fala, aos ocorridos tragicamente em Pedrogão Grande para percebermos que todas estas mortes poderiam ser evitadas com uma eficaz prevenção e, no nosso caso que lidamos com incêndios em edifícios, com a execução de projetos e planos de prevenção e emergência eficazmente estruturados. Esta responsabilidade é nossa… e não é pouca!


21/01/2016

ATERREM EM PORTUGAL!


Sessão na Junta de Freguesia



Praia do Puço




Ian Shanon



ATERREM EM PORTUGAL!

Em Novembro do ano passado, a Junta de Freguesia de Vila Chã (Vila do Conde) organizou uma actividade cultural sobre a queda do bombardeiro inglês Avro Lancaster III – EE106 – RAF na Praia do Puço. 

A 17 de Setembro de 1943, ao combater as linhas nazis em Itália, este avião inglês seria atingido pela artilharia alemã. Na tentativa de se dirigir para Gibraltar e na possibilidade de se despenharem em Espanha e serem feitos prisioneiros, os tripulantes optaram por tentar aterrar em Portugal. A aterragem de emergência correu bem e todos os tripulantes foram salvos pelos pescadores locais.

Esta iniciativa foi gratificante pois além do especialista em aviação da 2ª Guerra Mundial Carlos Guerreiro, esteve presente o sobrinho do Sgt. Charles Smith Cook, Ian Shanon e alguns vilaplanenses ainda vivos que recordaram o momento da aterragem do bombardeiro na praia. 

Para marcar este encontro, foi inaugurada uma placa comemorativa no local da queda do bombardeiro.


(Fontes: Blog “Memórias de uma Terra”,  “Aterrem em Portugal” de Carlos Guerreiro)

14/01/2016

Eduardo Lourenço



EDUARDO LOURENÇO – filósofo e ensaísta

Já há algum tempo que me apetecia escrever sobre Eduardo Lourenço. Pessoalmente, penso que é das pessoas mais lúcidas que o nosso país tem. Duma lucidez que nos deixa desarmados. Talvez por ter conhecido a vida de perto desde muito cedo. Irá fazer este ano 93 anos. É isso mesmo! Nasceu a 23 de maio de 1923 na aldeia de S. Pedro de Rio Seco (concelho de Almeida, distrito da Guarda). Veio de uma família numerosa, com mais seis irmãos. Passou pela Universidade de Coimbra ao frequentar o curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras (licenciatura em 1946) e ao assumir as funções de Professor Assistente. Exercendo as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa e como Professor Convidado, passou pelas universidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Universidade Federal da Baía, Grenoble e Nice. Além das muitas condecorações que lhe foram atribuídas a nível europeu, podem-se distinguir os doutoramentos Honoris Causa nas universidades de Coimbra (como não poderia deixar de ser), Rio de Janeiro, Nova de Lisboa e Bolonha.

Em Abril de 2014, numa conferência no Estoril com alguns ex-Presidentes da República ele teve razão ao afirmar-se “preocupado com a nossa sociedade pela perda do espaço privado”. Esta frase simples, óbvia e tão chocante mais verdadeira se torna se pensarmos na quantidade de informação privada que as pessoas colocam gratuitamente na internet, no controlo e monitorização de espaços públicos e privados (supostamente), na possibilidade de localização de cada um em qualquer momento através dos telemóveis, computadores… tudo em nome da nossa segurança.

Sobre o nosso tempo, ele afirma que “ é o tempo da suprema distracção, do presente que a si mesmo basta e das aparências que mascaram o real”. Andamos distraídos com o que não interessa, forçamo-nos a não pensar no futuro e vivemos das aparências. Nunca teve tanta razão. No fundo, vivemos alheados dos problemas sociais, políticos… que o nosso país tem. Basta lermos os jornais e vermos a informação televisiva para verificarmos que os jornalistas omitem o que é importante. Andamos todos amorfos, evitamos pensar e temos sido levados pela correnteza dos tempos que vivemos. Será isso que realmente pretendemos? Temos acesso ilimitado a toda informação no mundo, podemos comunicar com tudo e com todos em tempo real, independentemente da hora e do local, e contudo teremos mais cultura e mais informação?

Pondo os pés na terra, será justo afirmar que passamos por entre os pingos da chuva do faz e desfaz dos sucessivos governos, do atropelo pelos nossos governantes dos direitos que temos como cidadãos, do estrangulamento do País pelo Estado, da injustiça entre “funcionários” públicos e trabalhadores privados… Passamos por entre os pingos da chuva com a nossa distracção. O presente basta-nos!

Eduardo Lourenço tem essa dádiva: faz-nos pensar sobre as coisas. Apesar do seu significado e da sua importância, isso não é bastante. Devemos sair da nossa zona de conforto que, não tenhamos dúvidas, é virtual, e passar à ação. Sair para fora e deixar de sair para dentro.

“Estar-se sem livros é já ter morrido” – Eduardo Lourenço. Há quanto tempo não lês um livro?

Façam o favor de serem felizes, pensando e lutando por alguma coisa em que acreditem.