24/04/2009

Acabaram os vinhos da Estremadura

Saiu ontem em Diário da República (http://dre.pt/pdf1sdip/2009/04/07900/0241602420.pdf) a nova região com Indicação Geográfica (IG) "Lisboa" para a produção de vinhos que englobará as sub-regiões da Estremadura e da Alta-Estremadura. Assim, a IG "Estremadura" vai deixar de existir como IG e todos os vinhos que sejam produzidos nestas duas áreas geográficas e que obedeçam aos critérios legalmente instituidos passarão a designar-se como provenientes da IG Lisboa. Os vinhos que vierem a beneficiar da IG Lisboa serão produzidos desde Pombal, no extremo norte, até Cascais/Oeiras, no extremo sul.

Identicamente a outras regiões, foi criada a Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa à qual compete o controlo da produção , o comércio e a certificação dos vinhos IG Lisboa.

Artrur Mesquita

15/04/2009

Mateus Rosé

Nos anos 40 do século passado, o Sr. Fernando Van Zeller (pai) pretendia criar uma imagem para o seu vinho rosé. Para esse efeito, recorreu a um grande amigo seu que tinha um majestoso palácio na zona de Vila Real. Nesse entendimento propôs-lhe a cedência dos direitos de imagem a troco de um pagamento financeiro executado de uma só vez. Assim, o seu amigo cedeu-lhe os direitos de imagem sobre o Palácio de Mateus encontrando-se esse contrato vigente até aos nossos dias. Actualmente, jão são os descendentes dos originais contratantes que se sentam à mesa para falar sobre esse contrato. Isto demonstra bem como tem sido longa a vida da marca "Mateus Rosé" celebrizada no vinho de mesa rosé, com a sua tradicional garrafa, com mais de 60 anos e milhões de garrafas vendidas nos mercados internacionais.

Pouco depois da introdução do rosé nos mercados da Europa e dos E.U.A., a família Guedes apercebeu-se que o seu vinho, além de ser um enorme sucesso de vendas, possuía uma aptidão especial para acompanhar a comida chinesa e asiática que começava a fazer furor a partir de 1970 na Europa e no mundo ocidental. Foi mais uma razão para o Mateus Rosé ser o grande campeão de vendas dos vinhos portugueses no estrangeiro.

E o que pensam os portugueses do Mateus Rosé?
Pensam que nem sequer é digno da palavra "vinho". "Vinho só se for tinto!..."
Enquanto sucesso de vendas estrondoso lá fora é ignorado cá dentro, dando razão às nossas características como povo - o que é nosso é desprezado em detrimento do que recebemos dos outros países. O nosso bipolarismo permite-nos pensar que hoje temos os melhores vinhos do mundo e na hora seguinte invertemos esta tendência. Infelizmente na nossa história encontram-se demasiados casos similares.

O Mateus Rosé não só é um caso sério de sucesso internacional de vendas como, através da sua popularidade, tem sido um trampolim para a introdução e a divulgação dos vinhos portugueses e da palavra "Portugal" no mundo inteiro. As milhões de garrafas vendidas todos os anos podem atestar isso. Está na altura de mudarmos e de começarmos a dizer que o que é nosso é mesmo bom!

Artur Mesquita

Vinho do Sr. Martell

Durante os anos do último quartel do século XIX, a filoxera (doença originária dos E.U.A. que ataca as videiras acabando por dizimá-las) atacou e matou praticamente todas as vinhas de Portugal, depois de ter acontecido o mesmo nos restantes países europeus. Sem vinhas faltou ao povo o vinho e, sobretudo, faltaram as enormes quantidades de vinho de baixa qualidade que tradicionalmente era destilado para aguardente e para bagaço.

Estes produtos eram consumidos em grandes quantidades, quer aqui na metrópole, quer no ultramar português de então. Seguiram-se várias crises vinhateiras responsáveis pela queda de governos, tanto na monarquia como já na república.

Chamaram-se técnicos de vários países e de França veio o Sr Martell que conseguiu replantar muitas das vinhas do Ribatejo e da Estremadura pondo-as a dar frutos. Graças às enxertias que utilizava, as videiras sobreviveram e o vinho começou a ser feito novamente. De tal forma foi que o aumento da produção de vinho que o povo começou a falar em "vinho feitos à Martell". Daí à expressão ainda hoje utilizada de "vinho a martelo" foi um pequeno salto. De salientar que a conotação negativa que esta frase tem hoje (vinho feito por meios ilícitos) não tem comparação com a época da estada do Sr. Martell em Portugal.

Artur Mesquita (Fonte:IVDP)

O vinho e as mulheres

As mulheres são mais sensíveis do que os homens ao ingerirem a mesma quantidade de álcool. A taxa de álcool no sangue é sempre superior à dos homens.
O corpo masculino contém cerca de 70% de líquidos ao contrário das mulheres que só atinge os 65%. Uma mulher e um homem com o mesmo peso que bebam o mesmo volume de álcool são afectados de forma diferente. Esse volume de álcool dilui-se mais nos homens porque têm mais água no seu organismo. Por outro lado, o homem costuma ser mais pesado do que a mulher. Esse facto aumenta o volume de proporção do líquido no seu corpo. Eis a justificação para as figuras que as mulheres costumam fazer quando bebem uns copos!

Claro que existem algumas excepções...

Artur Mesquita

O vinho "leve"

Há marcas e produtos que são dignos de nota pelo enorme sucesso que conseguiram obter no mercado. Uma delas é o vinho do Douro "Evel".

Há muitos anos atrás, quando esta marca foi criada, procurava-se um vinho fácil de beber, mais atractivo para os paladares de quem conhecia a região do Douro (antigamente os vinhos não tinham a qualidade dos nossos dias...). Em suma, pretendia-se encontrar um vinho leve que fosse agradável de beber.

Quando finalmente os enólogos chegaram a um lote que era satisfatório foi necessário criar uma marca para comercializar esse vinho. Então alguém se lembrou de registar a palavra "leve" ao contrário. Em markting, esta decisão foi importante: "Evel" é uma palavra fácil de pronunciar e de recordar!

Artur Mesquita (Fonte: IVDP)

Fraudes do Vinho Fino (Vinho do Porto)

O Vinho do Porto é vitima de imitações e fraudes em todo o mundo. Austrália, Moldávia, Polónia, Bélgica... E até Brasil e Espanha!...
Ao comprar uma garrafa de Vinho Fino (esta é a verdadeira designação na região onde ele é produzido) analise atentamente o que tem pretensões de comprar.
Poderão ver as imitações em
http://www.ivp.pt/pagina.asp?codPag=96&codSeccao=6&idioma=0

Artur Mesquita

09/04/2009

Monóptero de São Gonçalo

Na semana passada, fui tentado por um amigo a encontrar um monumento totalmente diferente de tudo o resto que tive oportunidade de ver até hoje: o Monóptero de S. Gonçalo.
A estranheza do local e a beleza do monumento contribuiram para aumentar a minha curiosidade sobre a origem de tão bela construção. Deambular pelo planalto mirandês e, de repente, no meio do monte dar de caras com esta construção foi uma experiência rara e inesquecível.

Depois de algumas pesquisa, consegui saber que é um monumento em vias de classificação (com despacho de abertura de 31 de Agosto de 1993). Em vias de classificação desde 1993? Devem estar a brincar comigo! Claro, está localizado em Trás-os-Montes, muito longe da capital e por isso totalmente esquecido. Que País é este que não cuida da sua história? Por onde andam os senhores do IPPAR?

A informação que pude reunir e que pretendo divulgar é que se encontra localizado no interior da Quinta Nova (Quinta da Nogueira, para alguns), a poucos quilómetros de Mogadouro. O acesso faz-se por um caminho de terra batida com acesso condicionado a um 4X4, saindo de Mogadouro em direcção de Penas Róias. Segundo alguns entendidos, este é um monumento único na Península Ibérica, dentro do seu género. Um exemplar barroco de grande raridade. Foi erguido pelos Távoras, outrora senhores de grande parte da região, em homenagem a S. Gonçalo, patrono dos caçadores.

A sua construção, realizada em granito (com excepção da sua cúpula), é de planta circular assente sobre quatro degraus circulares. Sobre estes degraus erguem-se 6 paralelipípedos onde nascem 6 colunas com cerca de 1,90m de altura, encimadas cada uma por um capitel jónico (ver fotografias dos pormenores). Sobre estes corre um travejamento circular de cerca de 3 metros rematado por uma cornija do tipo balaustrada, donde nasce uma cúpula (já quase totalmente destruída) feita em material cerâmico aparelhado (pareceu-me a mim) com saibro a qual tinha a função de protecção dos seus ocupantes. O seu pavimento em lajeado de granito apresenta no centro uma cavidade onde, segundo alguns autores, estaria implantada a base da imagem de São Gonçalo.

Ao lado do local onde hoje podemos encontrar este monumento de arquitectura religiosa (onde actualmente se ergue uma construção tradicional em pedra construida sobre as fundações originais) existiu outrora uma ermida com a mesma invocação, fundada cerca de 1571. Em 1720, devido ao seu grau de avançada ruína, apenas existia a capela-mor onde se recolhia o gado.

A construção deste monóptero foi comparticipada pela população local e tinha como finalidade albergar a imagem de São Gonçalo. Portanto destinava-se a "assinalar um lugar santo, tal como a cruz assinalava as cabeceiras das igrejas paroquiais abandonadas".

A divulgação desta situação é imperiosa devido ao estado de ruína em que se encontra este monumento. Se alguém souber mais alguma informação sobre esta construção entre em contacto com este blog ou através do meu endereço electrónico.

Artur Mesquita

08/04/2009

Cântico Negro

A primeira vez que li este poema devia ter 15 anos. Deixei que estas palavras me tivessem acompanhado desde então. E o livro já está velho e usado. Infelizmente, vivemos na época da tipificação e da standartização. Do pensamento e da vontade inexistentes. Da falácia e da inverdade. Do que parece e nunca é!
"Eu tenho a minha loucura!...
Levanto-a como um facho a arder na noite escura!"
Nunca José Régio teve tanta verdade...
Um refrescante banho de palavras...


"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "Vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "Vem por aqui?"

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre nas vossas veias sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha loucura!
Levanto-a como um facho a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe,
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "Vem por aqui!"
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...

Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!