31/03/2009

A nova legislação europeia sobre o sector vinícola delineada pela comissária da agricultura Marianne Fischer-Boel, a ser ractificada no próximo dia 27 de Abril pela Comissão Europeia, está a causar polémica em alguns países. Nada que me espante! Nos países com longa tradição neste sector, nos quais Portugal se inclui , a prática de misturar vinho branco com vinho tinto para se obter um vinho rosé há muito que é proibida. Como sabem, o tradicional rosé é feito com uvas tintas que, ao serem maceradas, permanecem em contacto com as películas da uva (a pele) só o tempo suficiente para fornecer ao vinho a coloração rosada e a complexidade suficiente que é determinada pelo enólogo.

Michel Barnier, ministro francês da agricultura, já veio afirmar que mesmo no caso da ractificação da nova legislação, "a França proibirá a comercialização de vinho rosé produzido pela mistura de vinhos branco e tinto, por respeito à qualidade, às tradições vinícolas e ao consumidor". O que ele não diz é que tem os produtores franceses à perna por causa desta nova directiva e que a França é somente, o maior produtor mundial de vinho rosé.

Já há uns dias eu escrevi aqui o absurdo desta situação num mercado onde o vinho tem relevante importância nos países produtores do sul da Europa, quer em termos financeiros, quer em termos de tradição. Vamos então tentar deixar os "bairrismos" de parte e desmistificar esta situação!

A legislação de alguns países permite práticas que nós podemos, à partida, considerar absurdas. Um exemplo flagrante é o caso de alguns países do norte da Europa, como a Alemanha, permitirem legalmente a "chaptalização" dos vinhos brancos, que mais não é do que a adição de açúcar ao vinho na fase de fermentação. Não existindo horas suficientes de sol que permitam o amadurecimento das uvas na videira, adiciona-se açúcar ao mosto na fermentação para se conseguir um vinho com um maior grau alcoólico. Assim, a prática é introduzir artificialmente esse açúcar para prolongar a fermentação e aumentar o grau alcoólico do vinho.

Outro exemplo é o caso actual do vinho rosé misturado, acto legalmente admissível em alguns países do novo mundo. Simplisticamente, o mercado fornece ao consumidor o que é mais vantajoso renegando a qualidade do produto final para segundo plano. É a liberalização selvagem do mercado! Vejamos o que a "fabricação" de um rosé pela mistura de vinho branco com vinho tinto pode permitir:
  • Mascarar a qualidade - mesmo que um dos vinhos seja de qualidade inferior o outro pode-se sobrepor anulando os defeitos do primeiro;
  • Iludir o consumidor relativamente à qualidade final do vinho;
  • "Fabricar" vinho rosé em qualquer altura do ano, independentemente das estações e do clima;
  • Aumentar substancialmente o lucro dos produtores - quanto a mim é esta a razão principal!

Com a qualidade que os nossos vinhos possuem precisaremos de vinhos feitos desta forma?

Finalmente, eu gostaria de ver o nosso ministro da agricultura ao lado do francês. Apesar dos vinhos rosés não ocuparem um lugar de destaque no nosso consumo, é um problema que também nos toca a nós, directa e indirectamente!

Agora que a Primavera começa a aparecer, aproveitem para apreciar um bom rosé português, a acompanhar um prato de carnes brancas e magras grelhadas no carvão ou, somente, com uns morangos sumarentos e bem maduros!...

Artur Mesquita

27/03/2009

O vinho e os restaurantes

Este é um tema recorrente que me surgiu quando navegava há uns dias nas páginas da Revista de Vinhos. Ao ler um artigo da autoria do João Paulo Martins e do João Afonso sobre vinhos de qualidade acima da média (alguns de excelente qualidade) com um preço máximo de 10€, assaltava-me a ideia que se pode resumir rapidamente nestas palavras: não tenho visto estes preços nos restaurantes onde tenho ido.

Esta discussão é velha e já a tive bastantes vezes. Para o consumidor normal, os empresários de restauração do nosso país medem-se pela ganância do preço dos vinhos à mesa. Como tão bem vocês sabem, é muito fácil vermos uma carta de vinhos num restaurante com preços 50, 100, 200% ou mais..., acima do valor normalmente apresentado numa loja de vinhos (já não falo nas grandes superfícies!).

Logicamente, todos têm a sua margem de lucro na venda de uma garrafa de vinho. A diferença é que enquanto os segundos se limitam a ter 15 ou 20% de lucro (o que, dependendo do preço da garrafa pode representar já um aumento substancial), os primeiros metem indiscriminadamente a mão no bolso do consumidor. Noutro dia reparei que uma garrafa de Esteva (vinho de qualidade abaixo da média) estava marcada na carta de vinhos de um restaurante com uns módicos 9,5€ enquanto cá fora se pode comprar seguramente por um preço 4,5€ - 5€. Isto pressupõe um aumento de 190% relativamente ao preço habitual. A este lucro acresce ainda a fatia que essa loja também tem na sua venda. Ou seja, o lucro deste especulador anda na casa dos 250%, no mínimo. Quantos produtos conhecem como uma margem de lucro ao retalhista desta ordem?

Já existem restaurantes (poucos, infelizmente) de qualidade satisfatória nos quais os preços de venda de vinho à mesa em pouco supera os valores normalmente praticados cá fora. Outros onde servem vinho a copo de boa qualidade e em perfeitas condições. E outros ainda que tentam captar clientes não através da sua gastronomia mas sim pela excelência da sua carta de vinhos e pelos preços praticados.
Desenvolveu-se um mercado especulador paralelo de venda de vinho onde a comparação que o consumidor tem é feita com base nos valores encontrados em todos os comércios, menos nos restaurantes. E não me venham com a treta de estarmos a pagar o serviço do restaurante porque na maioria dos casos aquilo a que assistimos nem poderá ser chamado de "serviço"! Vinhos mal servidos, sem nenhum aconselhamento ao cliente, deficientemente guardados (conheço um restaurante que tem garrafas de Barca Velha colocadas em cima um expositor, ao alto e sujeitas a grandes variações diarias de temperatura - deve ser para mostrar ao cliente que tem no seu stock estas preciosidades!...)... Nem sequer possuem copos em condições para servir o vinho - não seria pela despesa na compra de copos minimamente aceitáveis que o restaurante iria à falência.

Os empresários ainda não vislumbraram que o grau de exigência dos clientes aumentou nos últimos anos. Depois, se o cliente reclama olham para ele como se o grau de exigência fosse excessivamente elevado, como se a razão não lhe assitisse. Esquecem-se que quem tem uma casa destas aberta ao público só sobrevive se tiver clientes. E isso só acontece se uma conjugação de factores se proporcionarem - qualidade da cozinha, qualidade no serviço ao cliente, instalações minimamnete aceitáveis (não necessariamente por esta ordem).

Ao ler aquele artigo pensei que os produtores de vinho estavam a tentar racionalmente combater a crise, tentando fidelizar os clientes aos seus produtos. Mas também pensei no "chicoespertismo" de alguns empresários de restauração que depois de verem os vinhos que foram provados não deixarão de aproveitar a oportunidade para aumentar os seus preços.

Depois não se queixem!

Artur Mesquita

Constantino, guardador de vacas e de sonhos!



"Terroir" é uma palavra francesa, criada no séc. XIX e "exportada" para todo o mundo, que representa um número, mais ou menos complexo, de factores que influenciam a biologia da videira, e logo, a qualidade da uva e do vinho. Nesses factores incluem-se o clima/microclima, o solo, a topografia, a drenagem dos terrenos, a condução da vinha, etc...

Há quem defenda que um "terroir" consegue transferir para o vinho um gosto único e próprio, mais ou menos identificativo do vinho de uma determinada região (não se esqueçam do que eu escrevi no início: é um conceito francês!).

Ora, como eu sou um homem de ciência e após muita leitura e pesquisa, conclui que é totalmente impossível provar tal ideia, a não ser que façamos como faz a religião... criamos mais um dogma. Acredito que existam muitas mentes contra mim nesta altura, mas o facto indesmentível é que cientificamente não existe qualquer prova que relacione, por exemplo, a composição mineral de um solo com o aroma e o gosto de um determinado vinho produzido nesse solo... e ponto final!

E tudo isto, perguntam vocês, para quê?

Pois, bem. Os franceses sempre foram bons a vender produtos e conceitos (queijos, vinhos, gastronomia, alta costura, perfumes). Sempre foram fieis aos seus "terroirs" de tal modo que os seus vinhos foram considerados como impossíveis de produzir noutras paragens que não aquelas que se encontram dentro do país. O "champagne" é fruto dessa filosofia mercantilista (não confundir o "terroir" com a protecção comercial de uma denominação!). As vinhas da região de Champagne, no nordeste de França, estavam bem delimitadas num território conhecido por ser único no seu "terroir" para a produção deste vinho (essa é a razão pela qual nós chamamos vinho espumante ao «champanhe» produzido no nosso país). Eu escrevi "estavam" porque deixaram de estar!

Como o consumo mundial de "champagne" tem aumentado significativamente e a produção francesa é limitada (como é limitado o terreno da região original), então, à boa maneira francesa, para não se perderem uns biliões de euros, só havia uma solução: aumentar a área passível de produzir "champagne" aumentando a área de denominação da região de Champagne. Claro, lá foi por água abaixo a questão do "terroir"! Agora não dá mesmo jeito nenhum justificar com o dito cujo uma vez que são os valores financeiros que mais alto se levantam.

Não se apoquentem que o vinho em causa continua a ser do melhor que se pode apreciar.

Posto isto, eu só gostava de saber em que é que ficamos? Não tenho lido nada sobre este assunto nas publicações mais ou menos especializadas. Será que os críticos adormeceram todos de repente? Ou agora também não dá jeito nenhum trazer este assunto, que já tem uns bons meses, à discussão?

Depois de espicaçadas as consciências, espero que consumam mais do vinho espumante produzido no nosso país, tanto na Bairrada como em Távora-Varosa (que me perdoem as outras regiões mas, quando eu encontrar um vinho espumante com a delicadeza, a finesse, a frescura e a complexidade à altura, eu digo!). É uma bebida extraordinária para ser consumida sozinha ou mesmo para acompanhar alguns pratos.

Por último: já tiveram a oportunidade de visitar as Caves da Murganheira, perto de Tarouca? Pois não sabem o que perdem! São escavadas em granito azul onde repousam as garrafas do vinho espumante mais fantástico de Portugal!

E já agora, levem um livro do Miguel Torga debaixo do braço! Sintam-se tentados!...

À vossa! Tchim... tchim...

Artur Mesquita

26/03/2009

A paixão segundo Zezito, sobrinho do senhor Júlio Monteiro

O sofrimento, meus caros amigos, é o verdadeiro significado da palavra paixão. Vem da palavra latina passione que indicava uma agonia intensa e prolongada. Munido eu deste conhecimento etimológico de paixão, que me ocorreu? Pois bem, ocorreu-me falar da pessoa que nos últimos tempos tem sofrido uma agonia intensa e prolongada: o Zezito, sobrinho do senhor Júlio Monteiro, suspeito de ter recebido luvas num negócio cujo nome não me ocorre de momento.

Este Zezito, tal como Cristo, sofreu ao longo dos últimos tempos um autêntico Calvário. Não, que possa ser comparado com Nosso Senhor (até porque Este último nem tinha um curso de Engenharia nem nada), mas porque percorre também as Estações de uma Via Sacra cheia de escolhos e traições. Claro que nem foi condenado à morte (mesmo política), nem sequer obrigado a carregar uma cruz, embora em tempos já tenha alombado com o professor Freitas do Amaral no governo. Mas, tal como Cristo nas terceiras e quartas estações da Via Crucis, também ele já escorregou uma vez (no caso da licenciatura) e também encontrou sua mãe (cujo nome foi envolvido sabe-se lá porquê). E se Simão Cirineu não apareceu para ajudá-lo, como surgiu ao Senhor na V Estação, teve a interceder por ele o ministro Pedro Silva Pereira, na SIC, durante meia-hora. Como podemos também registar que a sua Santa Verónica (a mulher que limpou o rosto de Jesus) acaba por ser a Jornalista Fernanda Câncio que lhe limpa o nome nas crónicas.

Acresce que o Senhor cai pela segunda vez na VII Estação, e o Zezito cai pela segunda vez na questão das casas de Valhelhas e arredores da Guarda. Um pouco depois, se um encontra as mulheres de Jerusalém, o outro encontra as mulheres do PS. E dá-se então, a terceira queda: no caso do Zezito foi a trapalhada do Freeport (agora me recordo subitamente do nome da coisa).
Daqui para a frente não sei o que acontece ao sobrinho do senhor Júlio Monteiro, mas posso relatar o que aconteceu ao Jesus da Galileia: foi despojado das vestes (X Estação), é pregado na cruz (XII), está nos braços de sua mãe (XIII) e é enterrado (XIV).

Pois bem, o Zezito não deve ficar nu na praça pública e menos ainda ser pregado numa cruz, morto e enterrado. Mas não deixa de ser curioso que a maioria de vós não tenha achado que esta comparação faça o mínimo sentido.

Porém, ela faz e de que maneira!

Porquê? Perguntais vós, céleres na condenação de um homem que se vê arrostar com uma cruz ladeira acima, rumo ao Gólgota, ao passo que uma multidão o invectiva, lhe chama nomes e se ri com escárnio da sua desgraça.

Qual a semelhança que não descortinais, gente ímpia e sem misericórdia?

Que liga Nosso Senhor Jesus Cristo ao nosso Zezito, sobrinho do senhor Júlio Monteiro? Que parte essencial da história partilham eles?

É que ambos são inocentes!
Se nunca pusestes esta hipótese é porque não sois verdadeiros cristãos dignos desse nome.

E isso deve preocupar o Zezito...

Comendador Marques de Correia

Relação dos objectos à venda por motivos de atestada recessão!

Há, meus amigos, muita coisa que não faz falta e que nós - seja por ganância, seja por inércia - teimamos em manter. Sótãos, arrecadações, despensas, garagens, armazéns e ministérios diversos estão atulhados de inutilidades, algumas por estrear, outras já em mau estado, mas todas partilhando essa característica desagradável que têm as coisas que um dia nos impingiram, apesar de, na realidade não necessitarmos delas para absolutamente nada.

Mão amiga, fez-me chegar uma lista não exaustiva desse tipo de coisas que poderíamos - numa espécie de garden sales - pôr à venda por desprezarmos, não ligarmos ou não nos terem préstimo. Ficando, ao menos, a esperança de que algum passante lhes encontre utlilidade e lhes dê destino, ainda que a baixo preço.

Naturalmente, não me cabe a mim - velho, relho e quase acabado observador da coisa pública - valorar a lista. Deixo, pois esse trabalho ao cuidado de cada um.

E posto que a introdução já vai longa, eis a lista:
  • 10 ilhas no Atlântico em bom estado (salvo a terceira que dá uns dinheiros que vêm da Base das Lajes);

  • Uma impressionante colecção de gravuras paleolíticas, património da Unesco, na Foz do Côa;

  • Um porto de águas profundíssimas e um complexo industrial de gabarito na vila de Sines;

  • Uma paisagem protegida na Costa Vicentina;

  • O doutoramento do Doutor Francisco Louçã;

  • Um ministro da agricultura quase sem uso e com um Proder de muitos milhões ainda por distribuir;

  • Um estudo para um aeroporto na Ota;

  • 500 mil apoiantes do deputado Manuel Alegre;

  • 1000 km de auto-estrada excedentes e uma linha de TGV para o Porto e outra, ainda, para Madrid;

  • Uma líder da oposição, um pouco usada, mas ainda com muito préstimo na área das Finanças;

  • Um conjunto de reformas da CGD que dá para alimentar todas as famílias dos eleitores do Distrito de Beja;

  • Uma colecção (Berardo) de arte moderna que vai valer imenso, mas lá para o ano 2018;

  • A má-disposição do Dr. Luis Filipe Menezes;

  • Um treinador do Benfica que vai aprender alemão e um treinador da selecção que ainda não aprendeu nada;

  • O recheio das casas de três ou quatro banqueiros em dificuldades;

  • Um programa de Governo, um congresso do PS e umas bizarras bandeiras vermelhas com um punho;

  • O canal Benfica;

  • As promessas de recuperação económica;

  • Todos os livros, todos os discos e todas as obras de arte que o Dr. Santana Lopes foi apreciando ao longo da sua vida fecunda;

  • O próprio Dr. Santana Lopes;

  • Um conjunto de desmentidos da Presidência da República;

  • Os óculos do Dr. Victor Constâncio;

  • O curriculum académico (e a hagiografia completa) do Engº Sócrates;

  • Um conjunto de jovens da direcção do CDS/PP;

  • O sistema eleitoral;

  • O Dr. Santana Lopes (penso que há aqui, talvez não inadvertidamente, uma repetição).

E pronto. São estas as coisas que Portugal pode vender sem se tornar mais pobre e com certa possibilidade de arrecadar umas massas, assim arranje uns incautos.

Comendador Marques de Correia

23/03/2009

Orxestra Pitagórica - Um cateto de tinto

Orxestra Pitagórica - nome seriamente estranho para quem gosta de brincar com coisas sérias. O que é a Orxestra Pitagórica?

É um grupo musical pertencente à Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra que utiliza o humor como arma crítica sarcástica à condição humana. Nada escapa ao olhar atento e crítico desta Orxestra. Composta exclusivamente por estudantes universitários de Coimbra, cria letras sobre músicas de canções de grande sucesso, nacionais ou estrangeiras. O seu repertório inclui uma vastidão de temas musicais, desde a vertente mais clássica e erudita (óperas, sinfonias...) à música popular portuguesa, passando pelo rock, pela música ligeira e até pela música de elevador e de WC!

A Orxestra Pitagórica é uma miscelânea de criatividades fora do normal, incrivelmente bem conseguidas através de métodos de ensaio experimentais estudados e concebidos em laboratório (in vitro), onde se podem sentir as ligações ao mais sagrado que existe no universo académico coimbrão - a praxe académica e o caloiro. Figura central de uma sociedade académica, o caloiro coimbrão consegue reunir em si as características que a mãe natureza se permitiu criar e cruzar, do asno ao adolescente borbulhado acabado de chegar à cidade. Logo ultrapassada esta fase embrionária, a conjugação das caracterísiticas e dos conhecimentos adquiridos no curso superior e na Pitagórica possibilitará ao caloiro e futuro doutor a ascensão às mais altas e esferas e cargos do país.

A Orxestra desenvolve a sua existência assente em três pilares de excelência:


  • O nível superior da formação musical dos seus executantes - bem patente nas suas composições de uma apurada e complexa execução técnica, fruto de ensaios prolongados onde as repetições até à exaustão se efectuam, normalmente, depois das 02h00 da manhã;


  • O nível da sua criatividade poética - é depois das 02h00 da manhã que a criatividade é mais evidente (aliás, como é normal nos grandes vultos das letras do nosso século), onde se alcançam elevados patamares de uma "performance" criativa necessária às composições de grande complexidade com que brindam o seu público;


  • Uma consciência apurada de solidariedade para com os outros - os membros da Orxestra são cidadãos conscientes da importância social deste organismo. Através de um esforço conjunto e de um espirito de equipa invejável, promovem e fomentam junto a terceiros a preferência dos artigos nacionais, através do consumo de dois terços da produção nacional de cerveja e de vinho. Esse consumo sustentado permite o combate ao desemprego, e logo, a manutenção de muitos postos de trabalho directa e indirectamente ligados à produção da cerveja e dos vinhos nacionais. O escoamento no mercado nacional de cerveja e vinho permite às empresas concentrarem-se exclusivamente na captação de novos mercados a nível internacional e gerar riqueza para o nosso país.

Os instrumentos musicais da Orxestra dividem-se essencialmente em dois grupos:

  • Os Sérios - constituidos pelos instrumentos mais tradicionais, de execução relativamente simples onde pontuam guitarras, bandolins, cavaquinhos, percurssões, etc...


  • Os Seríssimos - instrumentos de elevada precisão musical aliada a uma apurada técnica de execução, só ao alcance de alguns após muita horas de ensaio. Bioelectrico-cha-cha-cha, adegafone, autoclismos e sinais de trânsito, são exemplos da diversidade e da riqueza dos sons deste agrupamento. Os Seríssimos são propositadamente calibrados e afinados por técnicos especializados, imediatamente antes da entrada em palco, de forma a manterem a mais rigorosa afinação musical com a qual se caracteriza a qualidade musical da Pitagórica (ver fotografias neste blog).
A necessidade de anonimato em palco surgiu como um factor de independência para conseguirem efectuar críticas incisivas às personalidades e instituições visadas nos seus textos. Este anonimato foi desenvolvido no período anterior a 1974 como consequência da perseguição política da polícia de estado de então. As suas vestes foram desenvolvidas por um estilista francês anónimo (por motivos óbvios...) de afirmada reputação mundial, que conseguiu conjugar o "naife" ao mais elaborado da alta costura internacional da época. Para os caloiros foi concebida um cueiro/fralda de cor branca, com motivos helénicos e uns apêndices a colocar na testa baseados em motivos campestres do interior de Portugal. Para os doutores, utilizou os motivos dos trajes académicos da época com algumas modificações que permitiram manter a sua posição dominante face ao caloiro: sapato e meia preta, ceroulas "demodé" brancas, batina académica vestida do avesso, uma aplicação branca (do tipo turbante árabe) fixada à cabeça pela gravata preta, por vezes com uns imprescindíveis óculos escuros. Esta conjugação, de recorte finíssimo para a época, ainda hoje se mantém inalterada sendo um dos símbolos mais identificadores da Orxestra Pitagórica pelos seus fans.

As actuações da Orxestra Pitagórica são pujantes de energia, criativas e inovadoras, cúmplices com o público que adere rapidamente, onde se comprova o espírito criativo a fluir através da dualidade poética cerveja/vinho.

Ser Pitagórico é um estado de alma!
É um olhar priveligiado sobre a sociedade!
Ser Pitagórico é um estado que nos acompanha vida fora!

Ninguém consegue ficar indiferente à Orxestra Pitagórica!...
Viva a Maria da Fonte!!!

"E a mulher tem dois buracos!
E eu tapum, tapum, tapum!"

Alfredo Mercúrio

19/03/2009

ASSIM, SIM!

As negociações intermitentes duravam há 20 anos. Finalmente, a União Europeia e os Estados Unidos chegaram a uma solução consensual no intercâmbio comercial do sector dos vinhos que permitirá salvaguardar as várias denominações existentes no espaço europeu. O primeiro passo foi dado no ano passado com a denúncia unilateral pela UE do protocolo alcançado em 2005, o qual autorizava os EUA a usar as classificações denominativas dos vinhos europeus com origem neste país. Incluiam-se as denominações "chateau", "classic", "clos", "cream", "crusted/crusting", "fine", "late bottled vintage", "noble", "ruby", "superior", "sur lies", "tawny", "vintage character" e "vintage".

Este acordo foi alcançado, numa primeira fase, durante o último mês de Setembro, com o comprometimento da administração norte americana a apresentar uma proposta ao Congresso para que as denominações dos vinhos da UE, como Borgonha, Champanhe, Tokay, Chablis, Porto, Madeira, Jerez, Chianti, e outros, deixassem de ser consideradas como nomes passíveis de utilização neste país, como sucede actualmente, e se limitassem ao país de origem.

O acordo abrange ainda os novos requisitos de certificação implementados nos EUA e as regras existentes na UE sobre a rotulagem dos vinhos. Na área jurídica, as duas partes comprometeram-se a resolver qualquer futuro problema relacionado com o comércio de vinho através de consultas bilaterais informais em vez da utilização dos mecanismos de resolução de conflitos.

Além do valor que o mercado norte-americano tem para a UE, cerca de 2.000 milhões de euros (dados do ano de 2004), este consenso permite eliminar incertezas jurídicas que persitiam no comércio de vinho, além da importância inerente à protecção das próprias denominações em si.

Salvaguardando as existências nos armazéns europeus dos vinhos importados dos EUA, desde o passado dia 10 de Março que os EUA não podem exportar qualquer vinho com estas denominações para a UE.

Artur Mesquita

ASSIM, NÃO!

A União Europeia prepara-se para permitir a mistura de vinhos brancos com vinhos tintos na elaboração dos vinhos de mesa, em concreto vinhos rosados, possibilidade até agora proibida nos países comunitários. No entanto, irá ser permitido aos estados membros a opção de restringir esta prática aos vinhos com denominação de origem ou com origem geográfica protegida (DOC e VQPRD). Esta medida insere-se numa nova regulamentação comunitária sobre práticas enológicas que possibilitará também, entre outras, a adição de componentes como o PVI ou o PVP para redução dos teores de cobre, ferro e metais pesados, a adição de goma celulósica, a desalcoolização dos vinhos e a opção de estabilização por acção química (tratamento por catiões). Estes métodos, permitidos pela Organização Internacional do Vinho, já são prática frequente nos países do Novo Mundo produtores de vinho (Austrália, África do Sul, Argentina, Nova Zelândia...).

Num acordo firmado recentemente com a Austrália sobre a protecção das denominações dos vinhos europeus, em consonância com o alcançado com os EUA, a UE permitiu a importação para o espaço europeu de vinhos australianos com um teor de álcool inferior a 8% do volume (a actual regulamentação comunitária define que a comercialização de um produto sob a denominação "vinho" só seja possível com um grau alcoólico igual ou superior a 8%). A desalcoolização dos vinhos é processada através do método de osmose inversa.

Em França, a Associação de Produtores de Vinho já classificou a mistura do vinho branco com o vinho tinto como uma "aberração" uma vez que irá criar "confusão ao consumidor sobre a distinção entre um vinho rosé tradicional e outro branco no qual foram adicionadas umas gotas de tinto".

Claro, digo eu, que o bebam eles!!!

O facto é que esta nova regulamentação já foi analisada e aceite pelos peritos da UE e remetida para a Organização Mundial de Comércio. Passada esta fase, deverá ser ratificada pela União Europeia.

Pela minha parte, irei manter-me fiel à tradição:

B T M

ou seja,

Branco e Tinto só do Melhor

(... e sem misturas!)

Artur Mesquita

16/03/2009

Galileu Galilei

A comemoração do Ano Internacional da Astronomia durante este ano, em Portugal a cargo da Sociedade Portuguesa de Astronomia, veio recordar e sensibilizar as pessoas para o impacto que essas observações tiveram para a ciência e, mais concretamente, para as nossas vidas. Também durante 2009, assinalam-se os 400 anos das primeiras observações astronómicas de Galileu Galilei, homem com uma dedicação extrema a tudo o que acreditava!

Galileu era uma pessoa que acreditava na matemática como um instrumento superior à própria lógica. A sua permanente curiosidade científica era apoiada essencialmente em métodos experimentais limitados a regras matemáticas pré-concebidas. Estávamos em 15 de Fevereiro de 1564, na cidade de Pisa, data do seu nascimento. Sem o conhecimento que hoje possuimos, não deixa de ser extraordinário os conceitos que utilizava na condução das suas experiências científicas...

Da sua vida, destacam-se dois importantes momentos em termos científicos. Em 1632, ou seja, com a idade de 68 anos (!!!), publica "O Diálogo sobre os Dois Sistemas do Mundo" para no ano seguinte ser obrigado pela Igreja Católica (facilmente podemos imaginar o poder que a Igreja tinha sobre as pessoas...) a abjurar as suas convicções, condenando-o à prisão. A publicação de qualquer trabalho seu tornou-se proibida pelo Index. E em 1638, com a idade de 74 anos (!!!), publica o seu último livro intitulado "Discurso das Duas Novas Ciências, Mecânica e Dinâmica" cuja cópia manuscrita tinha sido contrabandeada para França.

Algumas invenções
  • termoscópio, o microscópio, o telescópio, o relógio de pêndulo, a balança hidrostática...
Contribuições específicas para as várias ciências
  • Harvey usou o princípio de medida de pulsação através de pêndulo para calcular a capacidade de bombagem do coração - 234kg de sangue/hora;
  • Fez inúmeras contribuições para a compreensão das leis que regulam o movimento dos objectos - aceleração da gravidade;
  • O conceito de inércia quando definiu que "Na ausência de uma força, um objecto continua a mover-se com movimento rectilíneo e com velocidade constante"...

Morreria em 1642 para alguns meses mais tarde nascer Isaac Newton que se encarregaria de desenvolver as suas leis do movimento acabando de vez com as ideias de Aristóteles que tinham dominado as mentes durante quase 2000 anos.

Galileu apoiou a teoria de Copérnico de um universo heliocêntrico, de uma Terra móvel à volta do Sol - "Eppur si muove" - conceito que provou experimentalmente. Não conseguiu evitar as acusações de heresia movidas pela Inquisição. Somente em 1982, por intermédio do Papa João Paulo II, a igreja se iria redimir deste erro. Será que sim? Quantos Galileus ainda existem ou existiram sem que a "remissão dos seus pecados fosse permitida pela Igreja Católica"?

Artur Mesquita

Vinho e Saúde I

A equipa de David Teplow, investigador na UCLA-University of California Los Angeles, descobriu o papel dos vários polifenóis que integram o vinho na luta contra as doenças cardíacas e contra a doença de Alzheimer. Anteriormente, já alguns investigadores europeus tinham adiantado algumas descobertas nesta área, mas Teplow avançou mais um pouco nas explicações científicas. Diz a reportagem do El Mundo que "os investigadores da UCLA descobriram o motivo pelo qual quem bebe vinhos tintos costuma estar a salvo das doenças do coração e, noutra vertente mas ao mesmo tempo, conseguiram identificar uma substância natural que pode anular parcialmente os efeitos da doença de Alzheimer".

Teplow e a sua equipa verificaram e estudaram a forma como os polifenóis do vinho bloqueiam a formação de proteínas que formam a placa tóxica no circuito sanguíneo. Há já muito tempo que se especula que esta placa obstruiria as artérias originando a doença de Alzheimer. Esta importante investigação publicada recentemente numa edição do Journal of Biological Chemistry, recorreu a ratos em laboratório para explicar a mecânica da acção anti-placa dos diferentes polifenóis. Os cientistas injectaram polifenóis destilados de bagos de uva nestes animais e observaram que não só tinham impedido a formação das proteínas danosas, mas também, tinham conseguido reduzir a sua toxicidade. Puderam verificar como dois tipos de proteínas que se encontram no sangue humano podem causar cardiopatias ou a doença de Alzheimer. Esta descoberta está pronta a ser testada em seres humanos, podendo converter-se no primeiro tratamento que consegue atrasar significativamente o desenvolvimento da doença de Alzheimer.

Fonte:RV/El Mundo

Vinho e Saúde II

Um grupo de cientistas que trabalhou em colaboração com cerca de um terço das universidades europeias descobriu que o consumo responsável de álcool, especialmente de vinho, tem relação directa com níveis mais altos de ácidos gordos omega-3 no sangue. Quem o afirma por escrito é Jacob Gaffney, da revista Wine Spectator, baseando-se num novo estudo a publicar no American Journal of Clinical Nutrition. Mais de 1600 europeus foram analisados durante mais de um ano com medições periódicas dos níveis de omega-3 no sangue. No final do estudo, os cientistas chegaram à conclusão de que os consumidores moderados de vinho foram os que apresentaram melhores níveis de omega-3, se comparados com os abstémios ou com os consumidores mais abusadores. De todo o grupo, "os níveis mais saudáveis foram encontrados nas mulheres que bebiam até um copo de vinho por dia e nos homens que bebiam dois ou mesmo três copos", disse Romina di Giuseppe, epidemiologista biomédico da Universidade Católica de Campobasso, que liderou o estudo. Estudos anteriores já tinham demonstrado que a combinação de altos níveis de omega-3, muito frequentes em peixes gordos como o salmão e o atum, e o consumo moderado de vinho, está relacionado com corações mais saudáveis.


Na mesma revista pode ainda ler-se que o composto do vinho tinto que dá pelo nome de Resveratrol foi capaz de reduzir a quantidade de gordura produzida nos fígados de ratos, que tinham sido alimentados em laboratório com uma perigosa dieta de álcool. A acumulação de gordura no fígado era, até então, uma condição crónica regularmente associada ao alcoolismo. A pesquisa parece ter demonstrado que o Resveratrol aumenta o ritmo a que é eliminada a gordura do fígado. A explicação mais provável para este efeito é a de que este composto consegue controlar as enzimas que regulam o metabolismo da gordura nos ratos. Dado que as doses de Resveratrol administradas implicariam o consumo de várias garrafas de vinho por dia, os cientistas não aconselham, por motivos óbvios, que as pessoas, especialmente os alcoólicos, a beber para resolver problemas de saúde com o fígado.

Fonte: RV/WineSpectator

02/03/2009

Tarde em Itapoã




Poema de Vinicius de Moraes



Um velho calção de banho
O dia p'rá vadiar
Um mar que não tem tamanho
Um arco-iris no ar
Depois na praça Caymi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de côco
É bom...
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvir o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã
Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha
E com o olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda a rodar
É bom...
Passar uma tarde em Itapoã
Ao sol que arde em Itapoã
Ouvir o mar de Itapoã
Falar de amor em Itapoã
Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz macio
Que brota dos coqueirais
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços serenos
Da lua de Itapoã

A reconquista cristã do casamento

O que não falta na Figueira da Foz são donzelas cristãs que, após uma tarde de apostas na roleta, desejam unir-se em casamento com um seguidor do islamismo.


Mais de um milénio depois, os mouros estão de volta a Portugal e desta vez querem casar connosco. Em 711 vieram para lutar; agora vêm para contrair matrimónio o que, pensando bem, é quase a mesma coisa, se não for mais sangrento. Por sorte, os cruzados continuam da atalaia e, depois de terem rechaçado a invasão da Península Ibérica, parecem prontos a impedir esta nova e igualmente perniciosa invasão das conservatórias.

Pessoalmente, confesso que não dei por nada. Só sei que os mouros voltaram porque, no espaço de pouco mais de um mês, dois cardeais foram ao casino da Figueira precatar as moças católicas contra os perigos do casamento com muçulmanos. Eu não conheço uma única senhora que pretenda desposar um muçulmano, nem imagino a razão pela qual os mouros, aparentemente, preferem noivas católicas frequentadoras de casinos. Mas a verdade é que, tendo em conta a frequência dos avisos e o local em que eles são emitidos, o que não falta na Figueira da Foz são donzelas cristãs que, após uma tarde de apostas na roleta, desejam unir-se em casamento com um seguidor do islamismo.

Vivemos tempos estranhos.

A única senhora com a qual travei conhecimento que casou com um mouro chamava-se Desdémona, e realmente viria a ser assassinada pelo marido, mas não é menos verdade que o principal responsável pela sua morte foi um cristão especialmente pérfido. Suponho que aconselhar as raparigas a evitarem os casamento com mouros que tenham subordinados cristãos particularmente malévolos seja menos eficaz, e até menos prático, mas de acordo com a minha experiência pessoal é, de facto, o mais apropriado.

Não quero com isto dizer que desconsiderei as recomendações dos cardeais.

Pelo contrário, tomei-as a sério: nunca ninguém me há-de ver casado com um muçulmano. Até porque conheço bem o perigo que corremos quando nos relacionamos com pessoas que interpretam literalmente os textos sagrados, como fazem muitos muçulmanos e o cardeal Saraiva Martins. Mas, em Dezembro de 2007, D. José Policarpo disse que o maior drama da humanidade era o ateísmo. Pouco mais de um ano depois, vem alertar as portuguesas para os malefícios do casamento com gente que acredita e muito em Deus, e esquece-se do perigo que representam os incréus. Não digo que, para impedir os casamentos entre católicos e ateus, volte a entrar num casino. Mas custa-me a compreender que não interrompa ao menos um jogo de poker para avisar as jovens católicas que pretendam casar-se com quem professa o maior drama da humanidade. A minha mulher deveria ter tido a oportunidade de saber o monte de sarilhos em que se ia meter. Estar casada com um palerma que não deseja matá-la por causa das suas convicções religiosas é um drama pelo qual nenhum ser humano deveria ser obrigado a passar.

in, Visão, Ricardo Araújo Pereira