27/03/2009

Constantino, guardador de vacas e de sonhos!



"Terroir" é uma palavra francesa, criada no séc. XIX e "exportada" para todo o mundo, que representa um número, mais ou menos complexo, de factores que influenciam a biologia da videira, e logo, a qualidade da uva e do vinho. Nesses factores incluem-se o clima/microclima, o solo, a topografia, a drenagem dos terrenos, a condução da vinha, etc...

Há quem defenda que um "terroir" consegue transferir para o vinho um gosto único e próprio, mais ou menos identificativo do vinho de uma determinada região (não se esqueçam do que eu escrevi no início: é um conceito francês!).

Ora, como eu sou um homem de ciência e após muita leitura e pesquisa, conclui que é totalmente impossível provar tal ideia, a não ser que façamos como faz a religião... criamos mais um dogma. Acredito que existam muitas mentes contra mim nesta altura, mas o facto indesmentível é que cientificamente não existe qualquer prova que relacione, por exemplo, a composição mineral de um solo com o aroma e o gosto de um determinado vinho produzido nesse solo... e ponto final!

E tudo isto, perguntam vocês, para quê?

Pois, bem. Os franceses sempre foram bons a vender produtos e conceitos (queijos, vinhos, gastronomia, alta costura, perfumes). Sempre foram fieis aos seus "terroirs" de tal modo que os seus vinhos foram considerados como impossíveis de produzir noutras paragens que não aquelas que se encontram dentro do país. O "champagne" é fruto dessa filosofia mercantilista (não confundir o "terroir" com a protecção comercial de uma denominação!). As vinhas da região de Champagne, no nordeste de França, estavam bem delimitadas num território conhecido por ser único no seu "terroir" para a produção deste vinho (essa é a razão pela qual nós chamamos vinho espumante ao «champanhe» produzido no nosso país). Eu escrevi "estavam" porque deixaram de estar!

Como o consumo mundial de "champagne" tem aumentado significativamente e a produção francesa é limitada (como é limitado o terreno da região original), então, à boa maneira francesa, para não se perderem uns biliões de euros, só havia uma solução: aumentar a área passível de produzir "champagne" aumentando a área de denominação da região de Champagne. Claro, lá foi por água abaixo a questão do "terroir"! Agora não dá mesmo jeito nenhum justificar com o dito cujo uma vez que são os valores financeiros que mais alto se levantam.

Não se apoquentem que o vinho em causa continua a ser do melhor que se pode apreciar.

Posto isto, eu só gostava de saber em que é que ficamos? Não tenho lido nada sobre este assunto nas publicações mais ou menos especializadas. Será que os críticos adormeceram todos de repente? Ou agora também não dá jeito nenhum trazer este assunto, que já tem uns bons meses, à discussão?

Depois de espicaçadas as consciências, espero que consumam mais do vinho espumante produzido no nosso país, tanto na Bairrada como em Távora-Varosa (que me perdoem as outras regiões mas, quando eu encontrar um vinho espumante com a delicadeza, a finesse, a frescura e a complexidade à altura, eu digo!). É uma bebida extraordinária para ser consumida sozinha ou mesmo para acompanhar alguns pratos.

Por último: já tiveram a oportunidade de visitar as Caves da Murganheira, perto de Tarouca? Pois não sabem o que perdem! São escavadas em granito azul onde repousam as garrafas do vinho espumante mais fantástico de Portugal!

E já agora, levem um livro do Miguel Torga debaixo do braço! Sintam-se tentados!...

À vossa! Tchim... tchim...

Artur Mesquita

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