27/02/2009

Crise de autoridade familiar leva ao aumento da violência nas escolas

Especialistas em educação defenderam que o aumento da violência nas escolas se deve, em parte, a uma crise de autoridade familiar, onde os pais renunciam a impor disciplina aos filhos, remetendo-se para os professores.

Vários especialistas internacionais reunidos na cidade espanhola de Valência debateram o assunto "Família e Escola: um espaço de convivência". Os participantes no encontro, dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas, o que obriga a "um esforço conjunto da sociedade".

"As crianças não encontram em casa a figura de autoridade", um elemento fundamental para o seu crescimento, disse na conferência inaugural do congresso o filósofo Fernando Savater(*). "As famílias não são o que eram antes e hoje, o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa", sublinhou.

Para Savater, os pais continuam a "não querer assumir qualquer autoridade", preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos "seja alegre" e sem conflitos, empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores. No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, "são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os", acusa.

"O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente não tem razão para depois se ir queixar", sublinha. Há professores que são "vítimas nas mãos dos alunos". Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que "ao pagar uma escola" deixa de ser necessário impor responsabilidades, alertando para a situação de muitos professores que estão "psicologicamente esgotados" e que se transformaram em "autênticas vítimas nas mãos dos alunos". "A liberdade" afirma, "exige uma componente de disciplina" que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade.

"A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara", afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, "uma oportunidade e um previlégio". "Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina", frisa Fernando Savater.

Em conversa com os jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que "têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos". "Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia", afirmou. Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que "mais vale dar uma palmada no momento certo" do que permitir as situações que depois se criam. Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.

(*) Fernando Savater nasceu em 1947 na cidade espanhola de San Sebastián. Catedrático de ética pela Universidade Complutense de Madrid, é autor de uma vasta obra que abarca o ensaio, a narrativa e o teatro. Entre outros galardões, recebeu o Prémio Francisco Cerecedo da Associação de Jornalistas Europeus e o Prémio Sakharov de Direitos Humanos. Fernando Savater é um dos pensadores mais destacados em Espanha e tem vindo a ganhar grande popularidade no mundo.

Fonte: Agência Lusa (texto cedido por Helena Castelo)

18/02/2009

Vénus


À noite, o planeta Vénus é um dos astros mais brilhantes do nosso céu. Durante muito tempo pensou-se que Vénus era o planeta gémeo da Terra, mas hoje sabemos que as semelhanças apenas existem no tamanho e na quantidade de massa de ambos.

Vénus é o segundo planeta do sistema solar na ordem das distâncias ao Sol. A duração do ano de Vénus é menor do que a duração do seu dia. Enquanto um ano dura 224 dias terrestres (uma rotação completa à volta do Sol), um dia (uma rotação completa sobre o seu eixo) dura 243 dias terrestres realizando-se no sentido contrário ao dos outros planetas, ou seja, com o Sol a nascer a oeste.

No seu movimento aparente, Vénus oscila em torno do do Sol, para um e outro lado, nunca ultrapassando uma distância ângular superior a 48º. Por ser visível antes do nascer do Sol é vulgarmente apelidado de "Estrela da Manhã", "Estrela Dalva" ou "Estrela Pastor".

A atmosfera de Vénus é 92 vezes mais densa que a da Terra. Por essa razão, a pressão na sua superfície é equivalente a mergulhar a cerca de 1000 metros de profundidade no mar. A sua atmosfera, maioritariamente composta por dióxido de carbono, algumas moléculas de azoto, enxofre e pequenas quantidades de água, concentra os raios solares e cria um efeito estufa que origina temperaturas de 470ºC na sua superfície. A existência de alguma água na atmosfera permite a formação de ácidos, como o ácido clorídrico e o ácido sulfúrico, que formam núvens corrosivas em altura.

Às 15h00 de amanhã, Vénus é visível em todo o hemisfério norte da Terra no seu máximo brilho. Essa possibilidade estende-se até ao próximo dia 23. Devido ao seu afastamento do Sol, é possível ser visto com clareza a olho nú quatro horas antes do nascer do Sol ou quatro horas depois do seu ocaso, ou ainda, a qualquer hora do dia desde que o céu se apresente sem núvens. Basta conhecer a sua localização na hora da observação e certificar que não esteja visualmente muito próximo do Sol.


Artur Mesquita

17/02/2009

Carlos Paredes


"...As pessoas gostam de me ouvir tocar guitarra, a coisa agrada-lhes e elas aderem. Não há mais nada!..."

"...A música que eu faço é um produto das circunstâncias imediatas do tempo em que vivo, e passará a ser encarada de outra forma quando essas circunstâncias desaparecerem. É uma coisa que, se perdurar graças aos discos, ficará apenas com o valor de documento, como acontece com toda a pequena música, desde os Beatles ao Manuel Freire. E já ficarei muito orgulhoso se, daqui a muito anos, puder ser entendido como um compositor que se integrava bem nos acontecimentos desta época!..."

"... Já me tem sucedido fazer as pessoas chorar enquanto eu toco... E eu não compreendia isto, mas depois percebi que é a sonoridade da guitarra, mais do que a música que se toca ou como se toca, que emociona as pessoas..."

Excertos de entrevistas com Carlos Paredes

Guitarra (Carlos Paredes)


A palavra por dentro da guitarra
A guitarra por dentro da palavra
Ou talvez esta mão que se desgarra
(com garra com garra)
Esta mão que nos busca e nos agarra
E nos rasga e nos lavra
Com seu fio de mágoa e cimitarra.

Asa e navalha. E campo de Batalha.
E nau charrua e praça e rua.
(E também lua e também lua)
Pode ser fogo pode ser vento
(ou só lamento ou só lamento).

Esta mão de meseta
Voltada para o mar
Esta garra por dentro da tristeza
Ei-la a voar ei-la a subir
Ei-la a voltar de Alcácer Quibir.

Ó mão cigarra
Mão cigana
Guitarra guitarra
Lusitana.


Manuel Alegre

Movimento perpétuo


"Enorme, desajeitado, com o eterno sorriso tímido de quem pede desculpa por existir. Sentou-se, aconchegou a guitarra a si, agarrou-se à guitarra e a guitarra a ele,, passaram a ser um corpo único, um só tronco de música e de raiva, de sonho e de melodia, de angústia e de esperança, exprimindo por sons tanta coisa que nós não tínhamos palavras para dizer!"

Carlos Paredes foi assim recordado por José Carlos Vasconcelos após ter assistido no Teatro Avenida a uma inesquecível festa da Tomada da Bastilha, na Coimbra dos anos 60.

Tentaram ensinar-lhe piano e violino, mas "por preguiça", "não se ajeitou aos instrumentos.". "A minha mãe, coitadinha, arranjou-me duas professoras. Eram senhoras muito cultas, a quem devo a cultura musical que tenho. Passávamos horas a conversar e uma delas murmurava: "Não sei o que hei-de dizer aos seus pais!". Mas aprendi muito com elas.", costumava contar.

Seu pai, Artur Paredes, resgatou-o das aulas de piano e violino para a guitarra. Artur Paredes foi um guitarrista genial e de grande virtuosismo na composição e na interpretação dos seus temas. Ele deu à guitarra de Coimbra novas sonoridades através da sua persistente pesquisa da perfeição. Como grande perfeccionista que era, trabalhava as suas composições até à exaustão e só as apresentava publicamente quando decidia estarem rigorosamente perfeitas. Temas como Desfolhada, Variações em Ré Menor Nº 2, Variações em Mi Maior, Passatempo, Balada do Mondego, entre outras, são consideradas o que de melhor se compôs, em termos de qualidade musical, na guitarra portuguesa. Artur Paredes seguiu a veia musical que a guitarra tinha na sua família, depois de seu avô, Manuel Paredes, e de seu pai, Gonçalo Paredes. Foi a acompanhá-lo que Carlos começou a dar os primeiros acordes.

Carlos Paredes era uma pessoa que dava particular atenção a tudo o que o rodeava, que cultivava as relações humanas retirando daí toda a experiência que transportava para a guitarra. Comunicava com a guitarra e pela guitarra, como quem conta uma história, como quem lê um livro. Fazer música era um acto de prazer, um acto de amor. "Para se fazer música com prazer tem muita importância a amizade entre as pessoas. Não se pode fazer música friamente e com cálculo, profissionalmente, no mau sentido, a receber X à hora. Não pode ser assim!"

O seu virtuosismo, a sua criatividade e a sua genialidade abriram horizontes à guitarra portuguesa. A técnica que desenvolveu na composição e na interpretação permitiu-lhe atingir a originalidade, a emotividade e a genialidade cujo acesso a guitarra não ousava alcançar. Da sua guitarra não saem simples notas musicais mas histórias que nos transportam para um universo maravilhoso de fantasia.

O Carlos era um contador de histórias. Agarrou-se à vida, às pessoas e aos lugares para passar sobre eles um manto de pureza com que fazia a sua versão dos seus momentos de reflexão.

A 16 de Fevereiro de 1925, nascia em Coimbra um génio criador que mudaria o universo da guitarra portuguesa e da "poesia" em Portugal. A grandeza da sua modéstia e a da sua humildade só são inversamente comparáveis ao seu enorme talento. Neste 83º aniversário do seu nascimento, estou certo que não quereria muitas comemorações. Apenas lhe devemos o favor de o ouvir e de tocar as suas composições! Apenas lhe devemos o favor de não o esquecermos!

"Um génio, eu? Não, sou só um homem igual aos outros. Geniais são as pessoas que respeitamos muito!"

Perpetuamente em movimento...

Artur Mesquita

02/02/2009

O humor na política!

Esta história ocorreu no dia 3 de Abril de 1982, em plena Assembleia da República. Discutia-se, então, a liberalização da interrupção voluntária da gravidez. O deputado do CDS, João Morgado, no seu conservadorismo cinzentão, afirmava para os seus colegas do hemicíclo que "...o acto sexual é para ter filhos!...".

A resposta de Natália Correia, então deputada, publicada no Diário de Lisboa dois dias depois, fez as delícias de todas as bancadas parlamentares, a do CDS incluida. A coisa correu de tal maneira que os trabalhos parlamentares tiveram de ser interrompidos. Lembrar-se-ão disso... mas, possivelmente, já perderam o conteúdo da peça de retórica da poetisa. O poema-resposta ditava o seguinte:

"Já que o coito - diz o Morgado,
tem como fim cristalino,
Preciso e imaculado,
Fazer menina ou menino.

E cada vez que o varão,
Sexual petisco manduca,
Temos na procriação,
Prova de que houve truca-truca.

Sendo pai de um só rebento,
Lógica é a conclusão,
De que o viril instrumento,
Só usou - parca ração! -

Uma vez. E se a função,
Faz o orgão - diz o ditado -
Consumada essa excepção,
Ficou capado o Morgado!"

O nevoeiro


O Sol aparece finalmente e, com ele, a alegria e o calor da vida. A Serra do Reboredo levanta o seu véu branco!

Torre de Moncorvo


Este Inverno trouxe à Terra Quente Transmontana novas paisagens que acrescentam mais maravilha ao Reino Maravilhoso do Torga!