EDUARDO LOURENÇO –
filósofo e ensaísta
Já há algum tempo que me apetecia
escrever sobre Eduardo Lourenço. Pessoalmente, penso que é das pessoas mais
lúcidas que o nosso país tem. Duma lucidez que nos deixa desarmados. Talvez por
ter conhecido a vida de perto desde muito cedo. Irá fazer este ano 93 anos. É
isso mesmo! Nasceu a 23 de maio de 1923 na aldeia de S. Pedro de Rio Seco
(concelho de Almeida, distrito da Guarda). Veio de uma família numerosa, com
mais seis irmãos. Passou pela Universidade de Coimbra ao frequentar o curso de
Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras (licenciatura em 1946) e ao
assumir as funções de Professor Assistente. Exercendo as funções de Leitor de
Língua e Cultura Portuguesa e como Professor Convidado, passou pelas universidades
de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Universidade Federal da Baía, Grenoble e
Nice. Além das muitas condecorações que lhe foram atribuídas a nível europeu, podem-se
distinguir os doutoramentos Honoris Causa nas universidades de Coimbra (como
não poderia deixar de ser), Rio de Janeiro, Nova de Lisboa e Bolonha.
Em Abril de 2014, numa conferência no
Estoril com alguns ex-Presidentes da República ele teve razão ao afirmar-se “preocupado com a nossa sociedade pela perda
do espaço privado”. Esta frase simples, óbvia e tão chocante mais
verdadeira se torna se pensarmos na quantidade de informação privada que as
pessoas colocam gratuitamente na internet, no controlo e monitorização de espaços
públicos e privados (supostamente), na possibilidade de localização de cada um
em qualquer momento através dos telemóveis, computadores… tudo em nome da nossa
segurança.
Sobre o nosso tempo, ele afirma que “
é o tempo da suprema distracção, do
presente que a si mesmo basta e das aparências que mascaram o real”. Andamos
distraídos com o que não interessa,
forçamo-nos a não pensar no futuro e vivemos das aparências. Nunca teve tanta
razão. No fundo, vivemos alheados dos problemas sociais, políticos… que o nosso
país tem. Basta lermos os jornais e vermos a informação televisiva para
verificarmos que os jornalistas omitem o que é importante. Andamos todos
amorfos, evitamos pensar e temos sido levados pela correnteza dos tempos que
vivemos. Será isso que realmente pretendemos? Temos acesso ilimitado a toda
informação no mundo, podemos comunicar com tudo e com todos em tempo real,
independentemente da hora e do local, e contudo teremos mais cultura e mais
informação?
Pondo os pés na terra, será justo
afirmar que passamos por entre os pingos da chuva do faz e desfaz dos sucessivos
governos, do atropelo pelos nossos governantes dos direitos que temos como
cidadãos, do estrangulamento do País pelo Estado, da injustiça entre “funcionários”
públicos e trabalhadores privados… Passamos por entre os pingos da chuva com a
nossa distracção. O presente basta-nos!
Eduardo Lourenço tem essa dádiva:
faz-nos pensar sobre as coisas. Apesar do seu significado e da sua importância,
isso não é bastante. Devemos sair da nossa zona de conforto que, não tenhamos
dúvidas, é virtual, e passar à ação. Sair para fora e deixar de sair para dentro.
“Estar-se sem livros é já ter
morrido” – Eduardo Lourenço. Há quanto tempo não lês um livro?
Façam o favor de serem felizes,
pensando e lutando por alguma coisa em que acreditem.