14/01/2016

EDUARDO LOURENÇO – filósofo e ensaísta

Já há algum tempo que me apetecia escrever sobre Eduardo Lourenço. Pessoalmente, penso que é das pessoas mais lúcidas que o nosso país tem. Duma lucidez que nos deixa desarmados. Talvez por ter conhecido a vida de perto desde muito cedo. Irá fazer este ano 93 anos. É isso mesmo! Nasceu a 23 de maio de 1923 na aldeia de S. Pedro de Rio Seco (concelho de Almeida, distrito da Guarda). Veio de uma família numerosa, com mais seis irmãos. Passou pela Universidade de Coimbra ao frequentar o curso de Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras (licenciatura em 1946) e ao assumir as funções de Professor Assistente. Exercendo as funções de Leitor de Língua e Cultura Portuguesa e como Professor Convidado, passou pelas universidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Universidade Federal da Baía, Grenoble e Nice. Além das muitas condecorações que lhe foram atribuídas a nível europeu, podem-se distinguir os doutoramentos Honoris Causa nas universidades de Coimbra (como não poderia deixar de ser), Rio de Janeiro, Nova de Lisboa e Bolonha.

Em Abril de 2014, numa conferência no Estoril com alguns ex-Presidentes da República ele teve razão ao afirmar-se “preocupado com a nossa sociedade pela perda do espaço privado”. Esta frase simples, óbvia e tão chocante mais verdadeira se torna se pensarmos na quantidade de informação privada que as pessoas colocam gratuitamente na internet, no controlo e monitorização de espaços públicos e privados (supostamente), na possibilidade de localização de cada um em qualquer momento através dos telemóveis, computadores… tudo em nome da nossa segurança.

Sobre o nosso tempo, ele afirma que “ é o tempo da suprema distracção, do presente que a si mesmo basta e das aparências que mascaram o real”. Andamos distraídos com o que não interessa, forçamo-nos a não pensar no futuro e vivemos das aparências. Nunca teve tanta razão. No fundo, vivemos alheados dos problemas sociais, políticos… que o nosso país tem. Basta lermos os jornais e vermos a informação televisiva para verificarmos que os jornalistas omitem o que é importante. Andamos todos amorfos, evitamos pensar e temos sido levados pela correnteza dos tempos que vivemos. Será isso que realmente pretendemos? Temos acesso ilimitado a toda informação no mundo, podemos comunicar com tudo e com todos em tempo real, independentemente da hora e do local, e contudo teremos mais cultura e mais informação?

Pondo os pés na terra, será justo afirmar que passamos por entre os pingos da chuva do faz e desfaz dos sucessivos governos, do atropelo pelos nossos governantes dos direitos que temos como cidadãos, do estrangulamento do País pelo Estado, da injustiça entre “funcionários” públicos e trabalhadores privados… Passamos por entre os pingos da chuva com a nossa distracção. O presente basta-nos!

Eduardo Lourenço tem essa dádiva: faz-nos pensar sobre as coisas. Apesar do seu significado e da sua importância, isso não é bastante. Devemos sair da nossa zona de conforto que, não tenhamos dúvidas, é virtual, e passar à ação. Sair para fora e deixar de sair para dentro.

“Estar-se sem livros é já ter morrido” – Eduardo Lourenço. Há quanto tempo não lês um livro?

Façam o favor de serem felizes, pensando e lutando por alguma coisa em que acreditem.


Sem comentários:

Enviar um comentário