09/04/2009

Monóptero de São Gonçalo

Na semana passada, fui tentado por um amigo a encontrar um monumento totalmente diferente de tudo o resto que tive oportunidade de ver até hoje: o Monóptero de S. Gonçalo.
A estranheza do local e a beleza do monumento contribuiram para aumentar a minha curiosidade sobre a origem de tão bela construção. Deambular pelo planalto mirandês e, de repente, no meio do monte dar de caras com esta construção foi uma experiência rara e inesquecível.

Depois de algumas pesquisa, consegui saber que é um monumento em vias de classificação (com despacho de abertura de 31 de Agosto de 1993). Em vias de classificação desde 1993? Devem estar a brincar comigo! Claro, está localizado em Trás-os-Montes, muito longe da capital e por isso totalmente esquecido. Que País é este que não cuida da sua história? Por onde andam os senhores do IPPAR?

A informação que pude reunir e que pretendo divulgar é que se encontra localizado no interior da Quinta Nova (Quinta da Nogueira, para alguns), a poucos quilómetros de Mogadouro. O acesso faz-se por um caminho de terra batida com acesso condicionado a um 4X4, saindo de Mogadouro em direcção de Penas Róias. Segundo alguns entendidos, este é um monumento único na Península Ibérica, dentro do seu género. Um exemplar barroco de grande raridade. Foi erguido pelos Távoras, outrora senhores de grande parte da região, em homenagem a S. Gonçalo, patrono dos caçadores.

A sua construção, realizada em granito (com excepção da sua cúpula), é de planta circular assente sobre quatro degraus circulares. Sobre estes degraus erguem-se 6 paralelipípedos onde nascem 6 colunas com cerca de 1,90m de altura, encimadas cada uma por um capitel jónico (ver fotografias dos pormenores). Sobre estes corre um travejamento circular de cerca de 3 metros rematado por uma cornija do tipo balaustrada, donde nasce uma cúpula (já quase totalmente destruída) feita em material cerâmico aparelhado (pareceu-me a mim) com saibro a qual tinha a função de protecção dos seus ocupantes. O seu pavimento em lajeado de granito apresenta no centro uma cavidade onde, segundo alguns autores, estaria implantada a base da imagem de São Gonçalo.

Ao lado do local onde hoje podemos encontrar este monumento de arquitectura religiosa (onde actualmente se ergue uma construção tradicional em pedra construida sobre as fundações originais) existiu outrora uma ermida com a mesma invocação, fundada cerca de 1571. Em 1720, devido ao seu grau de avançada ruína, apenas existia a capela-mor onde se recolhia o gado.

A construção deste monóptero foi comparticipada pela população local e tinha como finalidade albergar a imagem de São Gonçalo. Portanto destinava-se a "assinalar um lugar santo, tal como a cruz assinalava as cabeceiras das igrejas paroquiais abandonadas".

A divulgação desta situação é imperiosa devido ao estado de ruína em que se encontra este monumento. Se alguém souber mais alguma informação sobre esta construção entre em contacto com este blog ou através do meu endereço electrónico.

Artur Mesquita

3 comentários:

  1. Por onde andam os senhores do IPPAR?
    Sábia pergunta...Mas impossível de responder! Quantos monumentos únicos em "vias de classificação" à décadas, quantos imóveis classificados ao abandono, sujeitos à ignorância e voracidade de analfabetos funcionais...
    Por onde andam os senhores do IPPAR?
    Acabe-se com o pagamento dos seus chorudos ordenados por transferência bancária e teremos então a certeza que os encontraremos todo o fim de mês, religiosamente, levantando o seu pouco ou nada merecido ordenado em alguma caixa de atendimento a "funcionários" públicos.

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  2. Também eu visitei o monumento e garanto que levei duas horas sob sol impiedoso para o encontrar. É lindo e devia ser restaurado. No entanto está em propriedade privada e sem autorização dos donos provavelmente nada poderá ser feito. É uma pena que algo tão bonito esteja ao abandono sem que nada se faça.
    O Estado comprou a capela de S. Gião na Nazaré poderia tentar fazer o mesmo com o monóptero.

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